Se não dá para crescer, engorde!
"Estou estagnado, não tenho
mais para onde crescer." Esse desabafo do executivo que me procurou era o resumo
de meia hora de conversa. Depois de experimentar promoções seguidas dentro da
empresa, aproximadamente uma a cada dois anos, ele já estava há quase quatro
anos no mesmo cargo.
E o pior, dizia ele, todas as posições - poucas, aliás -
acima de seu posto estavam solidamente ocupadas, sem chances de que fossem
abertas "novas vagas" no nível superior ao seu. "Como o downsizing cortou muitos
postos executivos, o espaço para galgarmos postos mais elevados diminuiu
bastante", completou.
A resposta a essa angústia,
no caso dele e de muitos outros profissionais, não é necessariamente buscar
outro emprego. Na verdade, trata-se de trilhar um caminho que está de acordo com
as novas formas de funcionamento das empresas: mesmo ocupando nominalmente o
mesmo cargo, assumir mais responsabilidades e mais tarefas dentro da empresa.
Aumentar a importância, a abrangência e o peso do cargo que ocupa. Em outras
palavras, se não dá para crescer, engorde.
Com a diminuição real dos
postos executivos, acelerada por diminuições de quadro, reengenharias, fusões e
aquisições, aumentou a fluidez das tarefas e atribuições. A organização, por
outro lado, enfrenta cada vez mais desafios e precisa de talentos.
Principalmente no cenário brasileiro, a internacionalização obriga a uma grande
competitividade, talvez num patamar inédito para o país. Desse modo, a empresa
tem necessariamente de distribuir um número crescente de tarefas, desafios e
busca de soluções cada vez mais complexas entre os (poucos) executivos de que
dispõe.
Isso faz com que a antiga
forma de crescer verticalmente, postos acima, na carreira, possa ser substituída
pelo crescimento horizontal. O sucesso, a partir de um certo patamar, não é mais
ser promovido "nominalmente". Ele passa a ser ligado a assumir novas e maiores
responsabilidades.
Uma forma de avaliar o
crescimento profissional na horizontalidade é, portanto, comparar as atribuições
atuais com aquelas de um ano atrás. Se houve mudanças e ampliação do foco de
atuação, então houve crescimento. Isso se reflete também na remuneração. Seja
por aumentos salariais propriamente ditos ou, o que é mais comum nesse nível,
por crescimento da remuneração variável, pode-se perceber se um profissional
está ou não em crescimento na empresa e na própria carreira.
É interessante observar que o
angustiado executivo que me procurou com a queixa de estar estagnado apresentava
exatamente essas características, mas as considerava negativas. Ele dizia que
estava fazendo mais coisas, ganhando mais, coordenando um número maior de
pessoas, porém não era "promovido". Em nossa conversa, ele acabou percebendo
que havia de fato sido muito promovido, mantendo-se no mesmo cargo. Ele mudou o
conceito que tinha de "promoção", porque esse conceito também está
gradualmente mudando no mundo real.
Ocupar mais espaço, ser mais
ouvido, ter mais responsabilidades, ganhar mais, ser convocado para tarefas
estratégicas: aí estão alguns critérios centrais de uma carreira dentro de
organizações modernas. Lutar apenas por títulos acaba se convertendo numa
armadilha da qual é bom fugir: a vaidade ou a incompreensão sobre o
funcionamento dinâmico das estruturas hierárquicas nos dias de hoje.
Simon Franco