Teme a quem te odeia ainda que seja
uma mosca e tu, um elefante.
(Saadi)

 
 


O tesouro

Um eremita caminhava por um lugar deserto quando chegou a uma gruta enorme cuja entrada não era facilmente visível.
Decidiu descansar e entrou.
Logo notou o brilhante reflexo da luz sobre um monte de ouro.

Assim que se deu conta do que tinha visto, o eremita começou a correr, fugindo o mais depressa que pode.
Acontece que havia três ladrões que passavam muito tempo naquele ponto do deserto com a intenção de roubar viajantes. Logo o homem piedoso passou por eles.

Os ladrões se surpreenderam, alarmaram-se até, vendo o homem correndo sem que ninguém o perseguisse.
Saíram de seu esconderijo e detiveram-no, perguntando-lhe o que estava acontecendo.
- Estou fugindo do diabo, irmãos - disse. - Ele está me perseguindo.
Os bandidos não conseguiram ver ninguém perseguindo o devoto.

- Mostra-nos quem está atrás de ti - disseram.
- Eu o farei - falou o eremita, com medo deles.
Levou-os em direção à gruta, rogando-lhes que não se aproximassem dela. A essa altura, naturalmente, os ladrões estavam muito curiosos com a advertência e insistiram em ver o motivo de tanto alarme.

- Aqui está a morte que me perseguia - disse o ermitão.
Os malfeitores, é claro, ficaram encantados. Evidentemente consideraram o eremita meio louco e o deixaram ir, enquanto se felicitavam por sua boa sorte.
Em seguida começaram a discutir sobre o que deveriam fazer com sua presa, pois tinham receio de deixar o tesouro novamente só.

Decidiram por fim que um deles apanharia um pouco do ouro, iria à cidade, onde trocaria por comida e outras coisas necessárias, e depois procederiam à divisão.

Um dos ladrões se apresentou voluntariamente para realizar a missão. Pensou consigo mesmo:
- Quando chegar à cidade poderei comer tudo o que quiser. Depois envenenarei o resto da comida.

Assim os outros dois morrerão, e o tesouro será só meu.
Na sua ausência, porém, os outros dois também tinham estado pensando.

Tinham decidido que, mal o espertalhão regressasse, o matariam. Depois comeriam sua comida e dividiriam o tesouro em duas partes, em vez de três.

No momento em que o pilantra chegou à gruta com as provisões, os outros dois caíram sobre ele e, a punhaladas, o mataram. A seguir comeram toda a comida, e morreram por causa do veneno que seu companheiro havia posto nela.

Dessa maneira, como o eremita predissera, o ouro realmente tinha significado a morte para os que tinham deixado se influenciar por ele, e o tesouro permaneceu onde estava, na gruta...

Extraído de 'Histórias da Tradição Sufi' Edições Dervish 1993.

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