Fabrício, meu aluno, era caladinho com os colegas... regular na
aprendizagem... não conversava comigo... e a mãe sempre dizia
que
ele era muito "devagar"... Comunica-se através da LIBRAS...
Antes do recesso de junho, depois de ter passado uma atividade, pedi
licença à turma e fui tomar um cafezinho na cozinha da escola (saí
sem fazer o desjejum). Quando estou saboreando meu café, aparece o
Fabrício com o rosto ensangüentado, acompanhado por dois colegas
contando que ele tropeçou e bateu com a testa na quina da porta.
Olhei o ferimento e percebi haver necessidade de levar pontos. Liguei
para a família avisando o ocorrido. Logo a irmã chegou e fomos para
a clínica. A irmã estava nervosa, chorando e dizendo que o Fabrício
ia desmaiar porque "não agüenta dor, nem ver sangue".
Quando chegamos, olhei para o Fabrício, disse-lhe que os pontos não
iriam doer pois a médica daria anestesia. Durante a sutura fiquei
segurando sua mão, sempre sorrindo para ele. Depois de ser medicado
deixei-os em casa e voltei para a escola.
No outro dia, na sala, encontro o Fabrício feliz da vida.
Fiquei
surpresa, pois o surdo geralmente tem a saúde frágil e qualquer
indisposição os deixa na cama. Pedi para ele contar tudo que
aconteceu na clínica, para construirmos um texto.
Muito à vontade
começou a contar o ocorrido e sempre
sinalizava que eu estava junto
dele e segurava sua mão.
A partir daí o Fabrício ficou "enturmado", sempre me
sorria e conversava contando as coisa do seu dia a dia.
Na reunião de pais, sua mãe me perguntou por que o Fabrício mudou
tanto... chegava em casa ia logo estudar, estava atencioso com a família
e fazendo planos de ser aprovado para a 5ª série. Respondi-lhe que
também observei a sua mudança na escola mas, não tinha uma resposta
para dar.
Depois da reunião, avaliando os resultados do encontro com os pais,
fiquei pensando... não teria respostas para a mãe do Fabrício mas,
muitas vezes, em certos momentos da nossa vida, gostaríamos
imensamente de ter alguém segurando fortemente nossa mão...
Bom dia!!!