Houve, séculos atrás, uma tribo cujo chefe era tido como superior aos
chefes de todas as demais tribos.
Naquela época, a superioridade era medida pela força física. Assim, a
tribo mais poderosa era a que tinha o chefe mais forte.
Mas o chefe de que estamos falando não tinha somente força física. Ele
era também conhecido por sua sabedoria.
Desejando que o povo vivesse em segurança, ele criou leis abrangendo
todos os aspectos da vida tribal. Eram leis severas que ele, como juiz
imparcial, fazia cumprir com rigor.
Certa feita, problemas começaram acontecer na tribo. Alguém estava
cometendo pequenos furtos.
O chefe reuniu a tribo e com tristeza no olhar, frisou que as leis tinham
sido feitas para os proteger, para os ajudar.
Como todos tinham o de que necessitavam para viver, não havia necessidade
de ocorrerem furtos. Assim, ele estabeleceu que o responsável teria o
castigo habitual aumentado de 10 para 20 chibatadas.
Os furtos, entretanto, continuaram. Ele voltou a reunir o grupo e aumentou
o castigo para 30 chibatadas. Mas os furtos não cessaram.
Suplicando o chefe pediu:
- Por favor, estou suplicando. Para o bem de vocês, os furtos precisam
parar. Eles estão causando sofrimento entre nós.
E aumentou o castigo para 40 chibatadas.
Naquele dia, os que estavam próximos dele, viram que uma lágrima
escorreu pela sua face, quando ele dispersou o grupo.
Finalmente, um homem veio dizer que tinha identificado o autor dos furtos.
A notícia se espalhou e todos se reuniram para ver quem era.
Um murmúrio de espanto percorreu a pequena multidão, quando a pessoa foi
trazida por dois guardas. A face do chefe empalideceu de susto e
sofrimento.
Era sua mãe. Uma senhora idosa e frágil."E agora?" Pensou o povo em voz alta. Todos começaram a se
questionar se o chefe seria, ainda assim, imparcial. Será que ele faria
cumprir a lei? Seria o amor por sua mãe capaz de o impedir de cumprir o
que ele mesmo estabelecera?
Notava-se a luta íntima do chefe que, por fim, falou:
- Meu amado povo. Faço isso pela nossa segurança e pela nossa paz. As 40
chibatadas devem ser aplicadas, porque o sofrimento que este delito nos
causou foi grande demais.
Acenou com a cabeça e os guardas fizeram sua mãe dar um passo à frente.
Um deles retirou o manto dela, deixando à mostra as costas ossudas e
arqueadas. O carrasco, armado de chicote, se aproximou e começou a
desenrolar o seu instrumento de punição.
Nesse momento, o chefe deu um passo à frente. Retirou o seu manto e todos
puderam ver seus ombros largos, bronzeados e firmes.
Com muito carinho, ele passou os braços ao redor de sua querida mãe,
protegendo-a, por inteiro, com o próprio corpo.
Ele encostou o seu rosto ao da mãe e misturou as suas com as lágrimas
dela.
Murmurou-lhe algo ao ouvido e então, fez um sinal afirmativo para o
encarregado.
O homem se aproximou e desferiu, nos ombros fortes e vigorosos do chefe da
tribo uma chibatada, após outra, até completar exatamente 40.
Foi um momento inesquecível para toda a tribo que aprendeu, naquele dia,
como se podem harmonizar com perfeição, o amor e a justiça.