Tinham ouvido falar de uma terra maravilhosa, onde havia ouro
e prata e toda a sorte de riquezas; e mais: lá não havia
dor, nem ódio, nem tristeza. Quem a descobrisse teria
descoberto o paraíso.
E partiram, cada qual com o seu mapa, que cada qual julgava o
mais preciso. No caminho decidiram separar-se, já que um não
acreditava no mapa nem no projeto de caminhada do outro.
Cada qual foi arranjando outros companheiros e espalhando que
o mapa dos outros era falso e não levava à terra prometida.
O mapa deles, sim, era o certo.
E lá se foram aqueles grupos em caravanas à procura do paraíso
na terra, que seria porta de entrada para o paraíso no céu.
Cantavam seus hinos, recitavam seus versos, tinham sua
linguagem própria e apostavam na sua versão do mapa. Tinham
o verdadeiro roteiro.
Às vezes cruzavam seus caminhos, quase sempre para se
acusarem de desvios.
Mas a terra maravilhosa parecia cada dia mais impossível.
Chegavam aos oásis, achavam que era, mas não era.
Seus mapas precisavam ser interpretados e em geral, eram mal
interpretados. Mil vezes disseram: chegamos. Mil vezes tiveram
que admitir que ainda não era o que buscavam.
Um dia um especialista em mapas e caminhos convocou uma reunião
de todos. Queria ver os três mapas e checá-los com o
original.
- Como? Que original? Original é o nosso!
- Não, disse ele, os três são traduções. O original está
comigo.
- Como, com você?
- Fui eu que fiz o mapa. Quero ver o que vocês andaram
fazendo com ele. Na ânsia de serem os mais certos, muitos de
vocês andaram introduzindo coisas neles que eu jamais
coloquei.
Aceitaram ir e na reunião o caminhante disse:
- A terra maravilhosa não existe aqui neste mundo, mas o
caminho pode ser maravilhoso. Preocupados em chegar lá
primeiro, vocês nem perceberam que a beleza do roteiro estava
em caminhar juntos. E por não terem aprendido a caminhar
juntos não aproveitaram nada dos seus mapas e por isso mesmo
não chegaram.
Dito isso, o caminhante desapareceu e os três descobridores
descobriram muito tarde que, ou se busca junto um aprendendo
com o mapa do outro ou ninguém chega.
Maktub