CARTA DE UM
FILHO A UM PAI
Querido pai:
Hoje eu saí
batendo a porta com força.
Não era a primeira vez que eu
reagia dessa maneira
depois de uma discussão com
você.
Mas algo no seu olhar cansado, um apelo mudo atirado
em
minha direção, pouco antes de eu sair tão afoitamente,
me
fez raciocinar melhor.
Descobri, nesse momento, o
quanto sou intolerante com os
seus pontos de vista.
Eu,
que poderia me orientar pelo seu exemplo, de homem
ponderado,
bondoso, às vezes até tímido, que nunca ergueu a
mão para mim nem
abusou da sua posição de pai.
Eu o estava submetendo a muitas
humilhações. Quero confessar
o quanto fui injusto com
você.
Quantas vezes eu o chamei de quadrado perante os
meus
amigos... E você, com uma paciência infinita, mal
tentava
se justificar, submetendo-se aos risos de outros rapazes
que
também poderiam ser seus filhos.
Lembra-se de quando
eu insisti em comprar uma moto? Bati o
pé, ameacei largar os
estudos que você estava pagando, disse
que ia embora de casa e
quando a coisa chegou a esse ponto -
que remorso a recordação
disso me causa neste momento -
você quis ceder.
E
para quê? Para me ter a seu lado, para satisfazer um
capricho
meu, uma teimosia injustificada.
Eu devia estar louco para
querer uma máquinas que manteria
você e mamãe acordados todas as
noites, enquanto eu não
voltasse vivo para casa.
Quando eu
entrasse, encontraria você dormindo no sofá,
diante da televisão
fora do ar.
E você, com receio de despertar em mim um riso
irônico ou
uma palavra de recriminação, jamais confessaria estar
à minha espera.
-- Eu estava assistindo a um filme e adormeci
-- diria você,
um pouco envergonhado por demonstrar a fraqueza de
me amar.
Fico pensando, agora, que você não teve
vez.
Quando moço, quando criança, que é o melhor tempo da
nossa
vida, você sofreu a tirania de um pai rude, homem de
poucas
palavras e de muitas palmadas, como você mesmo me contou
muitas vezes.
Quando chegou o seu momento de ser pai, nasci
eu.
A quem você nunca tratou como foi tratado, talvez por
se
lembrar de como é humilhante ter um pai mandão e
teimoso.
Eu sei que pedir desculpas não adianta muito. Mas
talvez seja um começo.
Pensando bem, eu me orgulho de você.
Então, porque não dizer
isso? Por que não agir de acordo com esse
sentimento?
Alguma coisa está errada entre nós e receio muito
que seja eu.
Penso que não vai ser fácil para mim mudar de
repente.
Mas prometo fazer de tudo para agir como um filho que
tem um pai
bom, honesto, maravilhoso como você é
:-)
Bom dia!!!