Necessidade de Afeto
Morrie era
apenas um garoto de oito anos. Seu pai era de origem russa e não sabia falar
inglês. Por isso, quando chegou o telegrama, noticiando a morte da mãe, foi o
próprio garoto que leu.
No cemitério, ele ficou olhando jogarem terra sobre o caixão de sua mãe e
acreditou que nunca mais seria feliz sobre a face da Terra.
Nos dias que se seguiram, para aliviar a saudade, ele procurava lembrar os doces
momentos de ternura que tivera com a mãe. Eram muito pobres. O pai mudou-se para
os estados unidos fugindo do exército russo e nem sempre conseguia emprego.
Por essa razão a família vivia mais da assistência pública do que dos próprios
recursos. Depois da morte da mãe, o garoto e seu irmão foram mandados para uma
região de muita mata. Durante o dia eles se divertiam a correr. Quando chegava a
noite, Morrie ficava olhando para o pai, esperando que ele o acariciasse. Mas o
homem rude não manifestava qualquer gesto de afeto.
Morrie se sentia muito só. Sentia grande falta do carinho da mãe. Um ano depois,
com apenas nove anos de idade, já se sentia um velho. Parecia carregar o peso do
mundo nos ombros. Então uma imigrante romena, de feições singelas se casou com
seu pai.
Foi o abraço salvador para o pequeno. Era uma mulher de muita energia. Tinha uma
aura que aquecia o lar. Se o marido produzia uma atmosfera cinza, ela
transformava em claridade.
Se ele fazia silêncio, ela falava. À noite, cantava para os meninos com sua voz
suave, que durante o dia sabia ministrar lições. Ela cantava músicas pobres e
tristes, mas os acalentava.
Eva era o seu nome e desejava boa noite aos dois com um beijo para cada um. Era
um momento mágico para Morrie. Ele ficava esperando aquele beijo como um
pequenino animal espera o seu prato de alimento.
A presença de Eva lhe dizia que ele tinha uma mãe de novo. Muitas vezes o único
alimento que tinham era o pão. Mesmo assim, ela o ensinou a amar o estudo e a se
preocupar com os outros. Eva considerava a instrução o único antídoto contra a
pobreza.
Ela aprimorava seu inglês, estudando com dedicação, à noite, enquanto os
garotos, sentados à mesa da cozinha, também estudavam.
Morrie cresceu e se tornou professor. Setenta anos depois, ao recordar do
telegrama noticiando a morte de sua mãe, ainda sentia doer o coração, mas a
lembrança de Eva lhe trazia de volta evocações ternas e doces de um tempo em que
um menino assustado e carente de afeto, encontrou um colo de mãe para se aninhar
e crescer em segurança.
Deus permite que haja órfãos para que lhes sirvamos de pais. Amparar essas
criaturinhas, evitando que sofram fome e frio e lhes dirigir a alma, para que
não despenquem no vício, é caridade.
No entanto, o mais precioso de todos os benefícios é o do amor. Nada que possa
substituir uma carícia, um sorriso amistoso, uma palavra de carinho.
Por isso, perguntemos à criança que nos olha, se além de pão e agasalho, ela não
deseja a proteção do nosso abraço e a música da nossa voz, dizendo-lhe: gosto
muito de você.
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