"O amor nasce de quase nada e morre de quase tudo"
(Júlio Dantas)

 

Não perdoar...
 
O homem aproximou-se do espinheiro. Ergueu a mão para tocá-lo e um "ai!" de dor brotou de seus lábios.

Um rubi de sangue brilhou no seu dedo.
O homem limpou o sangue e disse fitando o espinheiro:
- Eu te perdôo!
 
Admirei e louvei dentro de mim aquele homem que possuía o doce dom de perdoar.
 
E aconteceu que veio outro homem. Parou junto ao espinheiro, ergueu a mão para tocá-lo, e o espinho o picou. Mas o homem limpou em silêncio a ferida, contemplou com amor o espinheiro, e não disse:
- Eu te perdôo!

Tive, então, este pensamento:
- O primeiro homem era um santo: sabia perdoar!
 
Este outro não sabe! Mas o meu Senhor, interrompendo a minha cisma, disse:
- Quem não sabe é você!
- Como, Senhor? Então o primeiro homem...
- Sim, é um santo, porque perdoou quando foi preciso!
- E o segundo?
- É mais santo ainda, porque não tem necessidade de perdoar.

E como eu ficasse perplexo, com o olhar perdido na incompreensão e na dúvida, o Senhor me disse:
- O espinheiro fere, porque é espinheiro. Ainda que ele quisesse jamais poderia perfumar.
 
O primeiro homem sentiu a dor da picada, e como não sabia nada, atribuiu a culpa ao espinheiro. Mas, como era puro de coração, perdoou.
 
O outro homem sentiu a mesma dor, mas como sabia que todo espinheiro fere, pois o espinheiro é assim, não se sentiu ofendido. E como nada tinha a perdoar, não perdoou.

Desde então sofro menos quando os espinhos me ferem. Dói-me na alma a ferida, mas minha alma sabe que não há ofensa. E como não há ofensa, não há perdão.
 
É assim que do meu peito brota um piedoso amor pelo espinho que não chegou a ser flor. Meu sofrimento se transforma em ternura porque já aprendi a não perdoar!
 
 
(Santiago Argüello)


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