Tive, então, este pensamento:
- O primeiro homem era um santo:
sabia perdoar!
Este outro não sabe! Mas o meu Senhor, interrompendo a minha cisma,
disse:
- Quem não sabe é você!
- Como, Senhor? Então o primeiro homem...
- Sim, é um santo, porque perdoou quando foi preciso!
- E o segundo?
- É mais santo ainda, porque não tem necessidade de
perdoar.
E como eu ficasse perplexo, com o olhar perdido na
incompreensão e na dúvida, o Senhor me disse:
- O espinheiro fere, porque é espinheiro. Ainda que ele quisesse jamais
poderia perfumar.
O primeiro homem sentiu a dor da
picada, e como não sabia nada, atribuiu a culpa ao espinheiro.
Mas, como era puro de coração,
perdoou.
O outro homem sentiu a mesma dor,
mas como sabia que todo espinheiro
fere, pois o espinheiro é assim, não se
sentiu ofendido. E como nada tinha a perdoar, não
perdoou.
Desde então sofro menos quando os espinhos me ferem.
Dói-me na alma a ferida, mas minha alma sabe que não há
ofensa.
E como não há ofensa, não há perdão.
É assim que do meu peito brota um piedoso amor pelo espinho que
não chegou a ser flor. Meu sofrimento se transforma
em ternura porque já aprendi a não perdoar!