Um herói numa cadeira de rodas
Havia um homem
de 38 anos que tinha enormes cicatrizes no rosto. Suas marcas
eram tão salientes que lhe deformavam a face.
Em qualquer ambiente social que ele comparecia, as pessoas
ficavam chocadas com a sua aparência.
Além disso, era paraplégico, andava de cadeira de rodas. Seu
filho Rodolfo tinha muita vergonha, e cresceu tentando
escondê-lo. Não chamava os amigos para freqüentar sua casa, nem
o pai para participar de reuniões e festividades da escola.
Certo dia Rodolfo contraiu uma gripe forte e faltou à aula. Por
causa de um trabalho urgente, dado pela professora, os colegas
foram até sua casa, sem avisar.
Quando viram aquele homem ficaram atônitos. E Rodolfo mais
ainda. "Não se preocupem, sei que sou bonitão" - disse, bem
humorado, o homem. E os garotos perceberam a doçura daquele
homem mutilado pela vida. Enquanto faziam o trabalho tiveram
algumas dúvidas e pediram ajuda ao homem feio, que os atendeu e
lhes mostrou sua admirável cultura, pois lia mais de um livro
por semana.
Após o término do trabalho, uma pergunta fatal. Alguém perguntou
por que ele estava naquela situação. Rodolfo ficou vermelho e
preocupado, pois os pais nunca haviam lhe falado o porquê.
Sempre evitaram a resposta. Então aquele homem dócil resolveu
aproveitar a oportunidade para contar o que havia acontecido no
passado. Quando Rodolfo ainda era um bebê, eles fizeram uma
viagem e se hospedaram num hotel-fazenda.
Ausentaram-se, ele e a mãe, por algum tempo, deixando Rodolfo
com a babá. Quando retornavam perceberam que o hotel estava em
chamas. Desesperado, o pai se embrenhou pelo meio do fogo e
resgatou o filho. Mas no exato momento que entregou o bebê ao
bombeiro, uma viga caiu sobre sua coluna jogando-o no chão, e as
labaredas provocaram sérias queimaduras no seu rosto.
Então, com profunda ternura, o pai de Rodolfo falou: "a vida de
meu filho era mais importante que a minha. Eu poderia morrer,
mas lutaria para salvar a dele." E acrescentou que as cicatrizes
eram o sinal do amor intenso que sentia pelo filho. Disse a
Rodolfo que não lhe contaram a história antes para que ele não
se sentisse culpado, e pudesse crescer sem traumas. O garoto
entendeu que não conhecia a intimidade de seu pai.
Compreendeu que foi injusto e superficial todas as vezes que
tentava esconder aquele herói dos seus amigos. Aprendeu que
deveria conhecer, amar e curtir mais seus pais, enquanto ainda
era tempo.
Bons filhos conhecem a história de seus pais, mas filhos
brilhantes vão muito mais longe: conhecem os capítulos mais
importantes de suas vidas. Jovens com essa característica
desenvolvem a arte de ouvir, dialogar, compreender. Adquirem a
capacidade de se colocar no lugar dos outros, de superar
conflitos e desenvolver relações saudáveis e felizes. Mesmo
quando seus amores erram, eles agem como garimpeiros que
procuram ouro no subsolo da história de quem amam.
(Com base no cap. 01, do livro Filhos brilhantes, alunos
fascinantes, de Augusto Cury, Academia de Inteligência)
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