Quem são meus amigos?
Meus amigos
têm olhos que brilham quando vêem os
dois pequenos sóis em que se
transformam os meus olhos, quando
eu os encontro.
Meus amigos têm mãos que apertam,
afagam e tocam; braços que se
estendem amplamente para receber o
meu abraço.
Meus amigos não são ingênuos,
tolos ou imprudentes. São apenas
desarmados, não ocultam sentimentos
nem se calam quando falar é a
necessária e adequada ação.
Meus amigos, quando se expressam,
esquecem a retórica impecável e
até mesmo o correto português porque
às vezes, o coração precisa de
manifestações acima do vernáculo,
mas repletas de significativas e
barulhentas interjeições.
Meus amigos sacam à distância o
que para mim é sagrado, às vezes
brigam comigo e eu com eles, mas
quando merecidamente me botam "na
lona“ por uma besteira que eu tenha
feito, não desferem nem mais um
golpe, de tal sorte que eu possa
refazer-me e novamente juntar as
mãos para aplaudi-los.
Meus amigos não são apenas
impulsos elétricos.
Eles conhecem meu endereço e,
muitas vezes, devido à distância,
perdemos um "face a face", mas nos
abraçamos através de um monitor ou
de um amoroso telefonema.
Afinal, quem são meus amigos?
São pessoas plenas de amor, como
eu. Alguns sem raça definida, outros
têm brasões, outros são
quatrocentões, outros parecem com
lordes ingleses, outros carregam
complicados sobrenomes alemães, mas
há uma marca em comum:
todos sabem dar-me transparente e
sincera afeição.
Haja o que houver, meus amigos
jamais me deixam na mão! Fátima
Irene Pinto