Falando Com Os Lobos
Será que você ainda lê
meus versos? Será que ainda se comove com meus poemas?
Às vezes penso que já
se dá o inverso, e que estou a lhe cansar, declinando as minhas penas.
Não são lá versos importantes ou inesquecíveis, são bem comuns e
despretensiosas as minhas gemas. Elas almejam tão somente e apenas
impedir o esfarelar de sentimentos perecíveis.
Perecíveis, bem sabemos,
por conta da distância. Insustentáveis por conta da contrária
circunstância. Fragilizados por conta da humana inconstância, dos "lobos
internos" querendo e não querendo, em dissonância.
São versos de uma
clareza aborrecida, são rimas sem penumbras, transparentes. são frases
por demais óbvias e incisivas, que cobram sem querer cobrar,
infelizmente.
E por serem assim tão
óbvias e evidentes, deixam um dos lobos - o predador - desmotivado,
afinal qual o sabor que há em se lutar por algo, que não oferece
resistência e permanece ao lado.
Meus versos são apelos comoventes ao lobo pensador, mas mesmo o lobo
pensador está mudando sutilmente, já nem sei se lhe causo alegria, tédio
ou dor, mas sinto que já não o comovo como antigamente.
E assim vou
rascunhando estes escritos resignadamente. São versos tristes que já
estão quase a falar do poente, de um amor que já conheceu inesperados
dias de glória, que deixa história, e vem descendo o morro humildemente.
(Fátima Irene Pinto)