E tudo aconteceu num momento, um notável momento.
Como todos os momentos, aquele não parecia ser diferente de qualquer
outro. Mas na realidade, aquele momento particular não foi como nenhum
outro. Naquele segmento de tempo algo espetacular ocorreu. Enquanto as
criaturas da terra caminhavam ignorantes, Ele chegou. O céu se abriu e
colocou seu bem mais precioso no inicio de uma forma humana.
Um feto. Dormindo num ventre.
Lhe foi dado sobrancelhas, cotovelos, dois rins e um baço. Esticou-se
contra as paredes do útero e flutuou no liquido amniótico de sua mãe.
Ele veio, não num flash de luz nem como um conquistador inacessível, mas
com aquele primeiro choro que foi ouvido por uma menina camponesa e por um
carpinteiro sonolento. As mãos que o segurou pela primeira vez eram mal
cuidadas, calejadas e sujas.
Nenhuma seda. Nenhum marfim. Nenhum alarde.
Se não fossem os pastores, não teria havido nenhuma recepção. E se não
fosse um grupo de observadores de estrelas, não teria havido nenhum
presente.
Pensar em Jesus desta forma parece quase grosseiro, não é? É algo que não
gostamos de fazer; é desconfortável. É muito mais fácil manter o
humanidade fora da encarnação. Limpe o estrume ao redor da manjedoura.
Seque o suor de seus olhos. Finja que ele nunca roncou e nem assoou o
nariz e nem bateu o martelo em seu polegar.
Mas não faça. Pelo amor de Deus, não faça. Deixe-o ser o ser humano
como pretendeu ser. Deixe-o se misturar à lama e à sujeira de nosso
mundo. Pois só se o deixarmos entrar, Ele poderá nos puxar para fora.
Veja-o desta forma e veja que mais valor ainda tem a mensagem que Ele nos
deixou.