Certa manhã, na cidade de Siena, Catarina estava indo para a missa na
igreja de São Domingos. As ruas ainda estavam escuras, mas o sol já
dava toques de ouro nos telhados e torres da cidade. Catarina olhava a
luz do sol nascente quando surgiu alguém que pegou em seu casaco. - Por
favor, me ajude - sussurrou uma voz. Ao se virar para o dono da voz, ela
viu um homem encostado à parede; tão magro e pálido que mal se agüentava
em pé.
- De que você precisa? - perguntou ela caridosamente.
- Preciso de ajuda para viajar - respondeu o homem.
- Moro muito longe, lá na montanha, e vim aqui procurar trabalho.
Mandei tudo para minha esposa comprar comida aos filhos. Preciso de
dinheiro para comer alguma coisa e recobrar minhas forças.
- Daria de todo coração - murmurou Catarina - mas sou apenas uma irmã
da Ordem de São Domingos e não tenho dinheiro.
Ia seguindo seu caminho quando o homem tocou suavemente novamente em seu
casaco.
- Por favor, me ajude! - insistiu ele - preciso de muito pouco.
Catarina olhou-o com piedade.
Não queria ignorar o pedido, mas que podia fazer? Já dera tudo que
possuía. Seus pais eram bondosos, mas não podia pedir que descem o que
tinham a um perfeito estranho. E havia tantos... tantos necessitados além
desse homem...
Rezou pedindo auxílio, os dedos cruzados sobre o pequeno crucifixo de
prata que usava desde menina, e que sempre segurava quando voltava o
pensamento para Deus.
De repente, teve a solução. É verdade que era apenas uma cruzinha do
tamanho de uma moeda, já um tanto gasta por tantas vezes tomá-las
entre as mãos. Mas, sendo de prata, ele poderia vender... comprar
comida e voltar para casa.
Pôs o crucifixo nas mãos do homem e apressou o passo para chegar a
tempo da missa. Embora tivesse dado o objeto que mais prezava, sentia o
coração leve e feliz como se tivesse recebido um presente valioso. Ao
se ajoelhar na igreja, aconteceu uma coisa muito estranha. Catarina
viu-se num amplo salão de teto em arco, cheio de belos tesouros. No
meio deste salão estava JESUS, trazendo na mão o mais belo de todos os
objetos - uma cruz de ouro cravejada de pedras preciosas, tão
refulgentes de glória que lhe enchia os olhos.
- Veja esses tesouros - disse o Senhor - são as mais belas ações dos
homens, praticadas em meu nome.
Catarina ficou encantada diante daqueles tesouros, mas um desejo aflorou
em seu coração e ela disse:
- Oh, Senhor! Sou apenas uma pobre irmã. Nada posso oferecer que
encontre lugar entre tais maravilhas.
Jesus sorriu e, levantando a cruz, disse:
- Já viu esta cruz, Catarina?
- Não, Senhor. Nunca vi nada tão maravilhoso.
E à medida que fixava o olhar na jóia, sentiu-se encher de imensa
alegria, pois no centro da cruz, no coração mesmo do resplendor de
luz, ela viu o pequeno crucifixo de prata que tinha dado ao homem na
rua. E enquanto a visão ia esvaecendo, uma voz soou em seus ouvidos:
- Aquilo que fizeres a teus semelhantes, ainda que seja o último deles,
a mim estarás fazendo.
Maktub