Um homem, cego e mendigo, passava seus dias em silêncio, sentado nos
degraus do templo sagrado, enquanto o mundo corria apressado; e nunca
um pensamento sequer fora dirigido ao homem, pois suas necessidades não
tinham nenhum interesse para aqueles que viviam nesta terra de abundância.
Era como se ele não existisse para aqueles que passavam, nenhuma
saudação ou palavra de estímulo fora lançada em seu caminho; mas o
homem não vivia dentro de um vazio escuro e de amargura, pois embora
seus olhos fitassem o nada, os olhos de sua alma viam tudo de cada
vida que passava.
Ele era capaz de ver as invisíveis correntes de ignorância segurando
as ocupadas multidões. Ele podia ver as escuras manchas de impureza
que os mantinham prisioneiros de doenças e ele testemunhou os
"demônios" atormentando suas vítimas, enquanto a ilusão
de independência era eternamente adorada.
Para cada um que passasse por ele, o mendigo enviava um abençoar
silencioso para tornar mais leve sua desapercebida sobrecarga, para
curá-los de suas doença e para curar as deformidades de suas vidas.
Enquanto as multidões passavam por seus caminhos separados, cada um
sentia uma mudança dentro de si, mas não podia ver a fonte desse
milagre; afinal como presente tão maravilhoso poderia ser dado por um
colecionador de esmolas?
E eis que passa uma menina com não mais de doze anos, cega, fazendo
seu caminho aos degraus do templo, onde queria entrar e orar.
Mas quando subia os degraus, ela tropeçou e caiu nos braços do
mendigo cego. Ilesa, mas envergonhada, ela pediu perdão, mas o
mendigo falou a ela...
- Todos nós tropeçamos na vida e fica o dever de cada um de apoiar o
outro na queda. Diga-me, jovem, por que vais ao templo hoje? Orar para
ter sua visão restaurada?
A jovem menina respondeu...
- Pelo contrário, não oro por mim, mas oro pelos que sofrem em silêncio.
- Quem lhe ensinou este abnegado ato de generosidade minha criança?
Perguntou o mendigo?
E a menina respondeu...
- Sete vidas atrás sentei-me aos pés do Mestre enquanto Ele ensinava
os caminhos do amor para aqueles que escutavam.
Nunca pude me esquecer
da suavidade de suas palavras e se eu pudesse apenas ver o mundo como
o Mestre vê, estaria contente em viver esta vida terrena dentro da
eterna escuridão de minha cegueira.
Lágrimas rolavam na face do mendigo quando ele falou estas
palavras...
- Oh velho espírito, vestido nos véus da juventude, olhe em meus
olhos e diga-me o que vê.
Mas a menina respondeu...
- Como posso, pois sou cega desde o nascimento?
Então o mendigo disse com gentileza na voz dominante...
- Maria, olhe agora dentro de meus olhos... e receba a sua visão.
A jovem fez como lhe foi pedido e ela não viu o rosto de um mendigo
cego, mas a suave face do Amor olhando para ela com seus brilhantes
olhos de Compaixão. E em sua alegria, ela gritou alto...
- Oh Mestre, é verdadeiramente você que eu vejo?
E o mendigo respondeu com um sorriso...
- Sou eu, minha criança amada, Sou eu.
Por muito tempo ficaram sentados nos degraus do templo e em
maravilhosa calma ela escutou a sabedoria que ele lhe revelou naquele
dia; e muitas coisas que ele tinha falado há muito tempo agora
tornava-se claro para sua presente consciência.
Em silenciosa comunhão sentou-se o Mestre, com Maria aos seus pés; e
enquanto observavam as multidões passando por eles, ela perguntou ao
Mestre por que ela podia vê-lo, enquanto aqueles que passavam tão
perto não viam?
E ele respondeu, dizendo...
- Você pediu para ver o mundo como o Mestre vê, e digo a você que
somente pelos olhos do Amor eu posso ver e ser visto.
Este Amor é
refletido de volta para você, mas aquele que escolhe ver apenas um
mendigo cego, suplicando por uma crosta de pão, este permanecerá
verdadeiramente cego.