Ela estava muito cansada. Todo dia era a mesma coisa. Ela se
via puxada para dez direções diferentes: filhos, roupas para
lavar, compras no supermercado, prazos para cumprir, amigos
pedindo conselhos, cartas necessitando respostas, o telefone
que não parava de tocar. Ela se sentia abatida e exausta além
da conta.
Ele estava irritado. O dia fora difícil, na lida com homens e
mulheres cujas vidas estavam desmoronando. Depois de uma hora
preso no trânsito, ele encontrou os filhos querendo sua atenção,
uma lista de pacientes para quem precisava telefonar e uma
pilha de contas para pagar.
Nas primeiras horas da noite, ambos se esforçaram para não
gritar, tentando controlar os nervos em frangalhos. De
repente, alguma coisa insignificante acelerou o processo de
descontrole. As vozes de ambos se elevaram diante da
intensidade da discussão. Sem querer, eles estavam trocando
palavras que não desejavam pronunciar.
Assuntos que nem eram relevantes foram trazidos à baila. Mágoas
passadas foram revividas. Mágoas guardadas e nunca perdoadas.
Uma simples discussão se transformou num debate acalorado.
Quando estavam aos gritos, a porta do quarto foi entreaberta.
Lentamente. Silenciosamente... uma mãozinha se esgueirou pela
fresta e colocou alguma coisa na porta.
Imediatamente, a mãozinha sumiu e a porta foi fechada.
Curiosa, ela se levantou para investigar. Preso na porta com
fita adesiva havia um pequeno coração de papel pintado de
vermelho, com os seguintes dizeres: eu amo a mamãe e o papai.
Anthony, o filho de 8 anos, estava fazendo sua parte em prol
da paz na família. Lágrimas de vergonha molharam o rosto da
jovem mãe. Marido e mulher se entreolharam, arrependidos por
terem permitido que as suas emoções extrapolassem e
prejudicassem seu lar.
De repente, nem lembravam mais sobre o que estavam discutindo,
quando o pequeno Anthony colocou um coração de papel na
porta do quarto. Mas eles resolveram deixá-lo colado ali como
um lembrete para os dias futuros.
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Maktub