Há alguns anos conheci uma família muito eficiente na arte de usar a
tesoura. Os amigos de cada uma das pessoas da família passavam por
constante votação para determinar se estavam à altura dos padrões
impostos pela mãe e pelo pai. Um deslize resultava em afastar alguém do
estreito círculo de "amigos". Qualquer um que não reagisse
imediatamente com grande gratidão era eliminado da lista da próxima vez.
Cortado!
Um dia eu também passei pela tesoura daquela família. Nunca soube
exatamente o motivo, mas soube também reconhecer que, uma vez cortada, não
havia mais esperanças de ser readmitida na vida deles.
No ano passado, a mãe da família morreu. O pai e as filhas, esperando
que uma grande multidão comparecesse para o último adeus, pediram a
ajuda da polícia local para controlar o trânsito. Enviaram telegramas,
telefonaram, os hotéis da localidade foram avisados.
Contudo, no final, apenas o marido, as filhas, os genros e um neto ou dois
participaram do ofício fúnebre.
Cortar as pessoas imperfeitas de nossa vida é um convite à solidão.
Quem sobraria para ser nossos amigos?
Existe alguém que você gostaria de
incluir novamente em seu rol de amigos? Que tal dar-lhe um telefonema?