Era uma vez um lorde muito influente e poderoso que tinha
milhares de soldados sob o seu comando, com os quais
conquistou grandes domínios para si mesmo. Ele era sábio
e corajoso, respeitado e temido por todos, mas ninguém o
amava. A cada ano que passava ele ficava mais severo, mas
também mais sozinho, e seu rosto refletia a amargura de
sua alma gananciosa, pois linhas profundas e feias
demarcavam sua boca cruel que nunca sorria, e rugas
sulcavam permanentemente sua testa.
Ele encontrou, porém, em uma das cidades que governava,
uma linda donzela a quem ele observara por muitos meses
nos seus afazeres entre o povo. O lorde se apaixonou por
ela e quis desposá-la. Decidiu ir falar com ela. Vestiu
sua roupa mais fina e colocou um coroa de ouro na cabeça.
Ao olhar-se no espelho para verificar a impressão que
causaria à linda garota, não viu nada a não ser um
semblante que causaria medo e daria motivo para ela não
gostar dele: um rosto cruel e duro que ficava ainda pior
quando tentava sorrir.
Então ele teve uma ótima idéia: mandou chamar um mágico.
- Faça-me uma máscara da cera mais fina para que
acompanhe cada movimento do meu rosto, mas pinte-a com
suas tintas mágicas para que tenha uma expressão agradável
e bondosa. Coloque-a no meu rosto de maneira que eu nunca
mais tenha que tirá-la. Faça uma máscara bonita e
atraente. Use todo o seu talento para isso e eu pagarei
qualquer preço.
O mágico respondeu:
- Eu posso fazer isso com uma condição. O senhor terá
que manter o seu rosto dentro das linhas que eu pintar,
porque se não a máscara ficará estragada. Uma única
carranca e a máscara ficará irremediavelmente estragada
e não poderei substituí-la.
- Farei tudo o que me pedir - disse o lorde ansioso.
Qualquer coisa para conquistar a admiração e o amor da
minha dama. Diga-me como posso evitar que a máscara
rache.
- O senhor precisa ter pensamentos bons - respondeu o mágico.
E para isso precisa de fazer boas ações. Precisa ter um
reino feliz em vez de um reino poderoso. Tem que
substituir a ira por compreensão e amor. Construa escolas
para seus súditos e não somente prisões; hospitais e não
somente navios de guerra. Seja gentil e cortês com todos.
Então foi feita a máscara maravilhosa e ninguém teria
adivinhado que não era o verdadeiro rosto do lorde. Os
meses foram passando e embora a máscara tenha freqüentemente
corrido o risco de ficar estragada, o homem lutou muito
consigo mesmo para mantê-la intacta.
A linda garota tornou-se sua esposa e seus súditos se
maravilharam com a transformação milagrosa que tinha
ocorrido com ele. Atribuíram isso à sua encantadora
esposa que, diziam eles, o havia tornado como ela.
À medida que a cortesia e a consideração foram
permeando a vida deste homem, a sinceridade e a bondade
também, e logo se arrependeu de ter enganado a sua linda
esposa com a máscara mágica.
Finalmente não conseguia agüentar mais esse pensamento e
mandou chamar o mágico.
- Retire de mim este rosto falso pediu. Tire esta máscara
enganadora que não representa a minha pessoa!
O mágico respondeu:
- Se eu a tirar, nunca mais poderei fazer outra e o senhor
terá que ficar com o seu rosto para o resto da vida!
- Eu prefiro isso, a enganar aquela cujo amor e confiança
eu ganhei por meios desonestos. Prefiro ser desprezado por
ela a continuar fazendo algo que ela não merece. Tire a máscara,
eu lhe ordeno que tire a máscara!
O mágico tirou a máscara e o lorde, angustiado e
assustado, procurou ver-se no espelho. Seus olhos se
animaram e seus lábios se abriram num sorriso radiante,
pois as linhas feias haviam desaparecido. A carranca tinha
desaparecido e seu rosto estava exatamente igual ao da máscara
que ele usara por tanto tempo!
E quando voltou para junto da sua amada esposa, ela viu
apenas as feições normais do homem que amava.
Sim, é uma velha lenda: que o rosto de alguém demonstra
prontamente o interior da pessoa, sua alma, o que ela
pensa e sente, seus profundos pensamentos.
Podemos percorrer o mundo em busca da beleza, mas só a
encontraremos se a levarmos conosco.