"O medo de sofrer é pior do que o próprio sofrimento. E nenhum coração jamais sofreu quando foi em busca de seus sonhos."

 

Ei enfermeira,  obrigado

- Ei, Enfermeira!

Era a voz de um homem, ruidosa e rouca, vindo do quarto 254. 
Eu estava pegando um atalho através da unidade de telemetria depois de um outro dia muito ocupado na unidade de tratamento intensivo. Estes não eram meus pacientes, então continuei meu caminho.

- Ei, loira.

Parei e olhei em volta. Nenhuma outra enfermeira à vista, então 
fui até a porta do quarto 254 e olhei de relance para dentro. 
Um homem grande com um rosto grande e amigável estava sentado na cama. Falou antes que eu tivesse possibilidade de abrir minha boca.
- Você se lembra de mim? Você foi minha enfermeira no quarto andar.
- Sinto muito, senhor, mas eu trabalho na UTI. Você deve estar me confundindo com alguma outra pessoa.

Eu sorri, desejei-lhe uma boa tarde e me virei para continuar meu caminho. Sua voz rouca parou-me outra vez.
- Não, espere um minuto. Seu nome é... deixe-me pensar...

Ele olhou para o teto, deu um sorriso e voltou a olhar para mim.
- Jackie, certo? Você tem um longo rabo de cavalo, não é você?

Fiquei espantada.
- Sim. Eu disse, olhando meu peito para ter certeza de ter retirado meu crachá. (eu tinha). Toquei o firme coque trançado atrás de minha cabeça. Então eu estudei sua fisionomia, procurando algo que pudesse despertar minha memória. Seus olhos eram calmos, azuis e brilhantes.
- Sinto muito. Eu não trabalho no quarto andar e não me lembro 
do senhor.
- Tudo bem, Jackie. Estou apenas contente por poder vê-la outra vez. Você esteve em meu quarto cerca de três semanas atrás. Meu coração tinha parado completamente e você colocou aquele aparelho sobre meu peito. Me lembro de você gritando todos aqueles termos técnicos, dizendo para todos se afastarem. 
Então você me dava novo choque até me trazer de volta à vida.

De repente clareou minha mente: Eu tinha estado, "por acaso", 
em seu quarto. Ele era uma pessoa diferente então
 - impassível, pupilas dilatadas e o rosto roxo.

- Quem lhe disse que eu lhe ajudei naquele dia? Perguntei, minha curiosidade puxando-me para dentro do quarto.

Ele riu e olhou para o teto.
- Ninguém me disse. Eu estava ali no teto assistindo tudo. 
Foi por isso que eu vi seu rabo de cavalo, longo e loiro. 
E quando você virou para olhar o monitor, eu vi seu rosto bonito. Estou muito contente por poder vê-la outra vez.

Ele olhou para baixo, seu sorriso se foi. Pude perceber que 
se esforçava para conter as emoções.
- Eu queria lhe agradecer. Muito obrigado...

Agora, cada vez que passo em frente ao quarto 254, um sentimento quente brota em meu peito. Sou grata pelo 
atalho que peguei naquele dia e por ter respondido ao chamado 
de "ei, enfermeira".

Bom dia!!

Jacqueline Zabresky

 

 
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