- É onde eu gostaria de estar, ele me disse apontando em direção
à lua.
- Gostaria de ser o homem na lua? Perguntei.
Sorrindo, ele respondeu,
- Não para sempre. Mas gostaria de estar bem ali na fronteira
entre a escuridão e a luz.
Às vezes me pego pensando o que é isto na lua que tanto prende
nossa atenção, nos faz sonhar, provoca maravilhas em nossa vida?
Pego meu telescópio muitas vezes apenas para olhar durante um
minuto ou dois. Eu nunca faço durante muito tempo, mas apenas o
suficiente pra me lembrar de que está aí e que é real.
- Por quê é tão importante ficar na borda da luz? Lhe
perguntei.
- É onde pertenço. Para mim representa o passado e o futuro. O
lado escuro é meu passado. A luz é meu futuro, disse.
- Eu pensaria exatamente o oposto. Na luz, onde você pode ver
tudo, é como seu passado. O escuro é a parte desconhecida da sua
vida adiante, comentei.
- Sim, faz sentido. É exatamente por isso que eu prefiro ver de
outra maneira. O passado já foi, está feito. É como sair de um
lugar e fechar a porta, eu não posso mais ver o que está naquele
lugar. Se estou numa jornada eu quero viajar à luz do dia assim
posso ver para onde estou me dirigindo. Eu quero que a estrada à
minha frente seja clara, ele disse.
- Então você iria gostar de estar lá durante uma lua cheia?
Perguntei.
- Não. Ele disse. Então, coçando a cabeça, perguntou, - Você
tem um telescópio?
- Sim, tenho.
- Quando você vê a lua cheia você pode ver todas as crateras.
Mas quando você olha a lua parcialmente exposta, você pode ver o
contraste ao longo da borda entre o escuro e a luz. As crateras
agora parecem ter profundidade, ter vida. A lua cheia é plana
como um retrato, ele disse.
- Você está certo. Eu gosto de ver a lua com meu telescópio por
isso. O contraste é o espetáculo.
- E é assim que quero minha vida... como este espetáculo de
contraste. Estar sempre indo em direção à luz. Ele disse
concluindo a conversa.
Olhe para cima, para a lua, hoje à noite, meus amigos. Vocês me
verão "na borda da lua..."
Maktub
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