Quando estiveres entre os lobos, uiva como eles. 
(George Gudjeff)

 


                      
    Difícil gestão do perdão


Numa pequena cidade francesa, costumava permanecer esmolando à entrada do templo um grupo de pedintes. À hora das atividades religiosas todos entravam, menos o Leôncio. Contudo, o oficiante gostava muito dele. Era humilde, submisso e resignado. Certo dia, ele não apareceu para esmolar e sua falta foi sentida. Outros dias se passaram e, preocupado com a sua ausência, o guia religioso decidiu procurá-lo. Depois de muito indagar, o encontrou num quarto úmido e sombrio.

Ao entrar para ajudá-lo, muita coisa chamou a sua atenção. Na parede suja e escura estava um relógio de ouro antigo e valiosíssimo; protegido por uma velha cortina estavam alguns retratos, cujas molduras revelavam extremado bom gosto e um divã revestido de um tecido damascado raro revelava grande valor.

Leôncio percebeu o olhar surpreso e indagador do religioso e então contou-lhe a sua história.
Muito pobre, fora levado para servir no castelo de um fidalgo. Ainda que revoltado, ele procurou servi-lo bem, chegando a ser seu secretário. Com isso tornou-se conhecedor profundo das suas transações comerciais e industriais. Motivos políticos e sociais levaram a região à revolta, com muita gente envolvida. Aquele fidalgo decidiu fugir com a família para outra região da França, por ter culpa em cartório. Ninguém sabia o rumo que tomara.

 Fora então procurado pelas autoridades que lhe ofereceram alta soma para que revelasse o esconderijo. Fascinado pelo ouro, Leôncio fez a revelação e o fidalgo e sua família foram capturados e condenados. Contudo, teriam escapado à morte se ele não houvesse feito revelações comprometedoras. Depois da sentença de morte, o tempo foi passando e teria caducado se não houvesse pedido pessoalmente a revisão da sentença...
- Assim. sinto-me hoje o mais indigno pecador. Por isso tenho me torturado, mantendo em meu poder esses objetos que representam o preço da minha traição - Falou ainda Leôncio.

- Bem, mas para Deus não há pecado que não mereça perdão. Busque-o enquanto é tempo, replicou o religioso.

- Não posso crer no perdão para quem premeditadamente fez passar pela guilhotina um casal com duas lindas filhas... só o caçula foi poupado. Veja aí sobre a mesinha a foto daquela família.

- Estes são os meus pais... Você os levou à morte - Falou o religioso.

- Sim. Eu sou culpado. E agora? Ainda acha que Deus me perdoará? E você?

Resignado e compassivo, o religioso respondeu:
- Se pode crer no perdão de Deus, creia que jamais lhe negarei o meu.


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Maktub

 
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