Era uma vez um rei que tinha todos os poderes e tesouros da terra, mas
apesar disso não se sentia feliz e a cada ano ficava mais melancólico.
Um dia ele chamou o seu cozinheiro preferido e disse:
- Você tem cozinhado muito bem para mim e tem trazido para a minha mesa
as melhores iguarias, de modo que eu lhe sou agradecido. Agora, porém,
quero que você me dê uma última prova de sua arte. Você deve me
preparar uma omelete de amoras iguais àquelas que eu comi há cinqüenta
anos, na infância.
- Naquele tempo, meu pai tinha perdido a guerra contra o reino vizinho e nós
precisamos fugir: viajamos dia e noite através da floresta, onde afinal
acabamos nos perdendo. Estávamos famintos e cansadíssimos, quando
chegamos a uma cabana onde morava uma velhinha que nos acolheu
generosamente.
- Ela preparou para nós uma omelete de amoras, quando a comi, fiquei
maravilhado: a omelete era deliciosa e me trouxe novas esperanças ao coração.
Na época eu era criança, não dei importância à coisa. Mais tarde, já
no trono, vasculhei todo o reino, porém não foi possível localizá-la.
- Agora quero que você me atenda esse desejo: faça uma omelete de amoras
igual à dela. Se você conseguir, eu lhe darei ouro e o designarei meu
herdeiro, meu sucessor no trono. Se você não conseguir, entretanto,
mandarei matá-lo.
Então ,o cozinheiro falou:
- Senhor, pode chamar imediatamente o carrasco. É claro que eu conheço
todo o segredo da preparação de uma omelete de amoras, sei empregar
todos os temperos.
- Conheço as palavras mágicas que devem ser pronunciadas enquanto os
ovos são batidos e a melhor técnica para batê-los. Mas não me impedirá
de ser executado, porque a minha omelete jamais será igual à da
velhinha.
- Ela não terá o sabor picante do perigo, a emoção da fuga, não será
comida com a sentido alerta do perseguido, não terá a doçura inesperada
da hospitalidade calorosa e do ansiado repouso, enfim conseguido. Não terá
o sabor do presente estranho e do futuro incerto.
Assim falou o cozinheiro.
O Rei ficou calado, durante algum tempo.
Não muito mais tarde, consta que lhe deu muitos presentes, tornou-o um
homem rico e despediu-o do serviço real.