Riqueza e Pobreza
Aquela mãe era muito especial. Com dez filhos, ela conseguiu
educar sua filha até a segunda série, sem que ela se desse
conta da pobreza em que vivia.
Afinal, a menina tinha tudo que precisava: nove irmãos e irmãs
para brincar, livros para ler, uma boneca feita de retalhos e
roupas limpas que ela habilmente remendava ou, às vezes,
fazia.
À noite, ela lavava e trançava o cabelo da filha para que
ela fosse à escola no dia seguinte. Seus sapatos estavam
sempre limpos e engraxados.
A menina era feliz na escola. Adorava o cheiro de lápis novos
e do papel grosso que a professora distribuía para os
trabalhos.
Até o dia em que, subindo os degraus da escola, encontrou
duas meninas mais velhas. Uma segredou para a outra:
- Olha, essa é a menina pobre. E riram.
Mary ficou transtornada. No caminho para casa, ficou
imaginando porque as meninas a consideravam pobre. Então
olhou para seu vestido e, pela primeira vez, notou como era
desbotado, um vinco na bainha denunciava que tinha sido
aproveitado.
Olhou para os pesados sapatos de menino que estava usando e se
sentiu envergonhada por serem tão feios.
Quando chegou em casa, sentia pena de si própria. Também
pela primeira vez descobriu que o tapete da cozinha era velho,
que havia manchas de dedos na pintura meio descascada das
portas.
Tudo lhe pareceu feio e acanhado. Trancou-se em seu quarto até
a hora do jantar perguntando-se porque sua mãe nunca lhe
contara que eles eram pobres.
Decidiu sair do quarto e enfrentar sua mãe.
- Nós somos pobres? Perguntou de repente.
Ficou esperando que sua mãe negasse ou desse uma explicação
satisfatória.
- Pobres? Repetiu a mulher, pousando a faca com que descascava
batatas. - Não, não somos pobres. Olhe para tudo que temos.
Apontou para os filhos que brincavam na outra sala.
Através dos olhos de sua mãe, a menina pôde ver o fogo da
lareira que enchia a casa com seu calor, as cortinas coloridas
e os tapetes de retalhos que enfeitavam a casa.
Viu o prato cheio de biscoitos de aveia sobre a cômoda. Do
lado de fora, o quintal que oferecia alegria e ventura para
dez crianças.
- Talvez algumas pessoas pensem que somos pobres em matéria
de dinheiro, mas temos tanto...
E com um sorriso, a mulher se virou para preparar mais uma
refeição para sua família. Em sua grandeza, ela nem se dava
conta que, a cada noite, ela alimentava muito mais do que estômagos
vazios.
Ela alimentava o coração e a alma de cada um dos filhos.
Riqueza e pobreza podem ser tidas como formas de se encarar o
mundo. Para quem idealiza que recursos amoedados lhe poderão
conceder tudo o que deseje em coisas materiais, riqueza será
ter muito dinheiro à disposição.
Para quem pense na vida como uma extraordinária experiência,
em que os sentimentos sejam prioridade, com certeza pensará
que pobre é quem não tem a quem amar ou que o ame.
Recursos como saúde, família, afeto não se adquire senão
com zelo,
empenho e amor.