Parábola para a familia
Deixem-me contar-lhes uma parábola.
Vocês conhecem aquelas casas de madeira, de tábuas largas, com
fendas e gretas pelas quais costumam cair, debaixo do assoalho um
espelhinho, um pente, uma moeda, um botão, uma miçanga, mil
coisas assim, que ficam lá embaixo, na escuridão.
Os meninos antigos gostavam de deitar-se no chão e ficar olhando
pelas gretas o velho porão escuro.
Quando um raio de sol penetra lá embaixo, brilham coisas
esquecidas e perdidas, pequenas ninharias que se acumulam anos a
fio.
Mas se um dia caísse uma jóia, então dava-se a descida ao mundo
maravilhoso do "debaixo do assoalho".
Os meninos entravam e era uma festa para os olhos e para o coração:
centenas de coisinhas perdidas e reencontradas:
- Aquela bolinha de vidro de cor.
- Aquele alfinete dourado.
- Oh!, aquela pedrinha que brilha!
Eram mil surpresas escondidas, acumuladas, perdidas anos a fio e
que a casualidade de uma jóia caída fizera redescobrir.
Pois bem amigos, a vida de família é como o fundo do assoalho,
com mil pequenas alegrias e carinhos, com mil momentos de ternura,
que vão caindo pelas gretas do tempo e do dia, e se vão
esquecendo no fundo da vida.
A gente costuma perder esta beleza toda pelo cansaço, pelo hábito,
onde as pequenas atenções, o dizer bom dia, boa noite, onde o
carinho pelos pais, pelos irmãos, pelos filhos, tornam-se miçangas
caídas nas gretas da vida...
Mas um dia como esse pode ser uma ocasião de choque, de lembranças
mais vivas do que foram as coisas.
Talvez seja o dia de tirar as tábuas do assoalho, do redescobrir
com alegria as pequenas coisas indispensáveis para o tempo de
amor, da vida em família...