Conta-se que um velho circense, após ter sido despedido do circo ao qual
dedicara toda a sua vida como malabarista, vagueou sem rumo, à procura de
quem lhe desse emprego e abrigo.
Não era fácil, afinal não desenvolvera outras habilidades, não era
mais jovem e tampouco sabia ler e escrever.
Após muitos meses perambulando e já doente, bateu à porta de um
Mosteiro, encontrando a caridade dos monges que o recolheram e dele
cuidaram até que sarasse.
Sua tarefa passou a ser cuidar do jardim, o que ele foi aprendendo com
algum esforço. Todavia algo o incomodava. Ao observar a rotina dos
religiosos, os cantos, as orações em Latim, sentia-se triste por não
poder acompanhá-los.
Ele também queria orar e cantar hinos de louvor ao Deus da sua compreensão.
Mas como? Não tinha as palavras certas, sentia-se rude e indigno de
adentrar a Capela. Como poderia ele falar do seu amor por Jesus, cuja
imagem se destacava majestosa ao fundo do Santuário?!
Certo dia, esperou que todos se recolhessem, tomou todos os seus aparatos
circenses e acercou-se da linda imagem do Mestre na Capela.
Começou a fazer a única coisa na qual ele era exímio... à sua volta,
arcos, bolas, pratos subiam e retornavam as suas mãos, em movimentos
perfeitos.
Ele esperava o milagre de ver no semblante do Senhor, um leve sinal de que
a sua prece - embora incomum - estava sendo recebida.
E foi persistindo nos seus malabarismos, como se executasse a mais linda
canção de louvor, sem dar-se conta do tempo, nem do suor que já
escorria abundante por todo o seu rosto.
Os monges, ao notarem os estranhos ruídos vindos da Capela, levantaram-se
com cuidado, receando tratar-se de algum meliante.
Todavia, quando chegaram à porta, pararam estupefatos diante da cena que
presenciaram.
É que neste exato momento O Senhor inclinava-se e, com o manto, enxugava
o suor daquele homem simples que não sabia rezar, mas que não obstante,
rezara com todas as forças do seu coração !
(Autora: Fatima Irene Pinto)