Um homem sábio pode considerar a vida uma comédia, uma
tragédia ou uma farsa, e ainda assim gozá-la.
(Harry Emerson Fosdick)

 
 

Um verme e um besouro
 
Um verme e um besouro eram amigos, passavam horas e horas conversando...
O besouro sabia que seu amigo era muito limitado, tinha dificuldades em se movimentar, tinha uma visão muito restrita, mas era muito calmo e tranqüilo comparado com os da sua espécie. O verme tinha também consciência de que seu amigo vinha de outro ambiente, se alimentava de coisas que lhe pareciam desagradáveis e era muito rápido e agitado para seu padrão de vida, tinha uma imagem estranha e falava com muita rapidez.

Um dia a esposa do besouro lhe perguntou que espécie de amizade era aquela que ele mantinha com o verme.... Como era possível o besouro andar tanto para ir ao encontro do verme... o besouro respondeu que o verme era muito fraco e não podia andar até ele, pois era limitado em seus movimentos, sua esposa continuou...Porque continuava sendo amigo de um inseto que não respondia as saudações efusivas que ele mesmo fazia ha muito tempo. 

O besouro sabia disto, porque conhecia as limitações visuais do verme, que as vezes não enxergava nem ouvia quem lhe cumprimentava. Muitas vezes, o verme nem sequer sabia, quem o saudava e quando se dava conta, não distinguia do que se tratava para dar uma resposta adequada. Muitas perguntas que a sua companheira fazia ficaram sem respostas, pois ele ficava calado para não discutir a respeito de sua amizade com a verme.

Um dia o besouro devido a tantos questionamentos resolveu se afastar do verme esperando uma reação dele, que o mesmo fosse procura-lo. Passou-se bastante tempo e chegou a noticia de que o verme estava morrendo, pois seu organismo muito fraco, depois de tanto esforço para tentar encontrar o besouro, havia se enfraquecido mais; pois toda vez que caminhava um pouco durante o dia, de noite tinha que retornar ao seu local de origem para se resguardar, pois temia locais estranhos.

O besouro resolveu ir ver seu amigo sem ouvir a opinião de sua companheira, no caminho vários insetos lhe contaram as varias dificuldades que o verme estava passando em tentar encontra-lo.
Disseram-lhe que o verme andava durante o dia, passava perto de ninhos de pássaros que tentavam come-lo, se desvencilhava das formigas que o atacava e assim sucessivamente no afã de encontrar seu amigo besouro.
Logo o Besouro encontrou o verme perto de uma árvore onde descansava. Ao vê-lo se aproximar e utilizando as últimas forças que ainda tinha, o verme disse o quanto se alegrava em encontrar seu amigo com saúde e bem. Sorriu pela última vez e se despediu sabendo que nada mais precisava ser feito, e nem se lembrava de mais nada.

O Besouro envergonhado de si mesmo por ter confiado a sua amizade e ouvido outras pessoas sobre o que sentia pelo amigo, o que era um sentimento apenas seu. E com isso perdeu muitas horas de momento e felicidade que as suas conversas com o verme lhe proporcionavam. pois ele compreendia que seu amigo tão limitado, tão diferente, era seu amigo, a quem respeitava, não pela espécie a que pertencia, mas porque lhe oferecia a amizade.

O besouro aprendeu varias lições nesse dia: A amizade está dentro de si, não nos outros, se você a cultiva encontrará a alegria do amigo.
Também compreendeu que a amizade não está limitada pelo tempo. Nem tampouco é limitada pela espécie ou raça alheia.
E o que mais o impressionou foi que o tempo e a distância não destrói uma amizade, são as nossas dúvidas e nossos temores que mais a afetam.

E quando perdemos um amigo, uma parte de nós vai com ele. As frases, os gestos, os temores, as alegrias e ilusões compartilhadas no casulo da confiança vão com ele.
Após um bom tempo o besouro morreu. Jamais ouviu-se dele uma queixa se quer de quem o aconselhou mal, pois foi decisão sua, de colocar em mãos estranhas sua amizade, somente para vê-la escorrer entre seus dedos como água.


Maktub
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