Você já percebeu quantas latinhas de cerveja e refrigerante existem jogadas pelas ruas ou pelas estradas? Os cilindros de metal estão espalhados pela cidade, lançados por motoristas e pedestres que não se incomodam em procurar uma lixeira. Bem, da próxima vez que você ver uma, faça uma oração de agradecimento, porque esta sujeira pode mudar uma vida.

Houve um tempo em que meu marido estava desempregado, a recessão estava no auge e nós tínhamos dois meninos pequenos para alimentar. 
Nós esgotamos todas as possibilidades de trabalho, cortamos as despesas até os ossos e esvaziamos todos os recursos. Todo dia amanhecíamos com a esperança de que aquele seria o dia em que encontraríamos trabalho e renda. Dia após dia - nada.

Explorar latas de lixo atrás das mercearias tornou-se um esporte de família - muito diferente de uma parada rápida no McDonald's.
As chances de encontrar trabalho ficavam cada vez mais difíceis naquela época. Desesperada, eu sabia que não poderia desanimar por causa das crianças. Mas, o problema permanecia. Como eu ia alimentar minha família?

Sabendo que eu precisava esfriar a cabeça, eu comecei a sair para longas caminhadas. O ar fresco me fazia bem e eu conseguia ver nossa situação por um ângulo diferente. O desespero era fútil e logo reclamar era substituído por rezar. E eu rezava.

Um dia eu notei várias latas espalhadas no chão. Vivendo naquela situação, logo percebi que poderia converter aquelas latas em algum dinheiro. Cada lata em um níquel, que fosse. Tentar pegar todas com minhas mãos resultou em um monte de cilindros brilhantes rolando pelo asfalto. Então o que não deu pra levar ficou escondido atrás de um arbusto para ser recuperado mais tarde. Uma sacola plástica dobrada em meu bolso se tornou uma necessidade e logo duas sacolas se tornaram o normal. Logo existiam dúzias de pegajosas e gotejantes latas, o suficiente para pelo menos comprar um pouco de leite. Mais alguns dias de coleta e um pão era meu troféu.

Minha meta todo dia era ver quantos níqueis eu podia encontrar disfarçados de latinhas descartadas. Toda semana existia o suficiente para comprar comida mas, o mais importante, minha atitude melhorou, e estar sem trabalho já não era o terrível desastre que eu tive inicialmente imaginado.

Isto aconteceu anos atrás. Nós recebemos tantas bênçãos e nunca iremos esquecer.
Semana passada eu vi um homem remexendo um arbusto e recolhendo tantas latinhas quanto podia. Ele ficou vermelho quando eu disse:
- Oi!

E ele começou a desculpar-se porque ele estava levando as latinhas. 
Eu acenei afastando suas explicações e disse:
- Cada latinha é um níquel!

E me abaixei para o ajudar a encher sua sacola.