Conta-se que uma
mulher vivia sozinha e muito se lamentava de solidão e nenhuma companhia.
Ninguém jamais aparecia em sua casa.
Certa manhã, chovia muito, e alguém bateu à sua porta: era um pequeno
homem, tremendo de frio, molhado da cabeça aos pés.
Vendo o visitante tão inesperado, imediatamente mandou que ele entrasse.
Ali, com as vestes pingando, ele ouviu a mulher que por mais de
uma hora
lamentou sua solidão e falta de companhia.
Ela não lhe ofereceu roupas secas ou algo quente para se aquecer, tão
envolvida que estava em suas próprias queixas.
Ele não tirava os olhos dos seus lábios em movimento ansioso, contínuo e
disparado.
Cessada a chuva, ele fez menção de sair da casa, no que a mulher se
inquietou:
- Espere! Nem sei seu nome! Você voltará?
Ao que o homem reagiu, estendendo-lhe um papel totalmente seco, onde se lia:
Sou o Anjo Surdo. Só posso ouvir corações.
Trago o remédio que cura a
solidão, fazendo nascer amizades.
Seu efeito não se manifesta naqueles que só
falam de si e pensam apenas em si próprios.
Isto dito, desapareceu...e nunca mais alguém bateu naquela porta