Pedaço
perdido
Esta é a história do círculo no qual faltava um pedaço. Grande triângulo
fora arrancado. O círculo queria ser inteiro, sem nada faltando, então
foi procurar o pedaço perdido. Como estava incompleto e só podia rodar
lentamente, admirou as flores ao longo do caminho. Conversou com os
insetos. Observou o sol. Encontrou vários pedaços diferentes, mas nenhum
deles servia. Então, deixou-os todo na estrada e continuou a busca.
Certo dia, o círculo encontrou um pedaço que se encaixava nele
perfeitamente. Ficou tão feliz! Seria inteiro. Incorporou o pedaço que
faltava e começou a rodar. Agora que era um círculo perfeito, podia
rodar muito rápido, rápido demais para notar as flores e conversar com
os insetos.
Quando percebeu como o mundo parecia diferente ao rodar tão depressa,
parou, deixou o pedaço na estrada e foi embora rodando lentamente.
Somos mais inteiros quando sentimos falta de algo.
O homem que tem tudo é, sob certos aspectos, um homem pobre. Nunca saberá
o que é ansiar, esperar, nutrir a alma com o sonho de algo melhor. Nunca
saberá o que é receber de quem ama algo que sempre quis e nunca teve.
Quando aceitarmos que a imperfeição é parte do ser humano, e pudermos,
a exemplo do círculo, continuar a rodar pela vida e aprecia-la, teremos
adquirido a integridade que todos desejam.
E, finalmente, se formos corajosos o bastante para amar, fortes o bastante
para perdoar, generosos para exultar com a felicidade alheia e sábios
para perceber que há amor suficiente para todos, então poderemos atingir
a plenitude que nenhuma criatura viva atingiu.
Poderemos regressar ao Paraíso.
1990
Maktub