Sempre que vou ao banco, reparo
num rapaz que trabalha lá. Ele é organizador de fila única. Uma postura
extremamente arrogante e autoritária.
Aqui não vai desdém algum , a profissionais de qualquer área. Apenas a
constatação da necessidade de mandar, que alguns sentem, aproveitando então
qualquer oportunidade de excercê-la.
Naquele momento, seu Ninguém, pode exigir que a fila única, obedeça a mil
regrinhas, estabelecidas com base em suas frustrações. E deita e rola. Um
passinho a frente...mais para o lado... pare!
Isto ocorre com outros tantos "ninguém" da vida.
Professores que gostam de zerar alunos, como se o fracasso fosse deles,
esquecendo-se que se os alunos zeraram, foi porque o mestre, não soube
transmitir absolutamente nada.
Médicos que marcam "horas" e deixam o paciente esperando
"horas". Só o tempo deles tem valor? Ou é demonstração de poder?
Vejo em praias, pais que batem nos filhos e olham para os lados, pedindo
aprovação dos presentes. Tão se achando!
Seguranças que ficam felizes, quando soam alarmes, falsos que sejam, e
gritam: - Parado ai! Adoram presenciar a humilhação. Ganharam o dia.
Chefes que amam constranger seus funcionários, diante de platéias.
Motoristas que jogam carros em pedestres ou não param no ponto do ônibus,
forçando o passageiro a pedir por favor, taxistas que fazem questão de
passar em poças d'água para molhar passantes, policiais que param em blitz,
pessoas com aspecto de pobreza.
Quanta necessidade de exercer autoridade. Pensam certamente que são os tais.
Deixo claro que nada tenho contra regras de bem viver e respeito autoridades.
Detesto sim, autoritarismo como compensação de vida fracassada. Estes
desejos enormes e íntimos de ser alguém temido, de sentir que manda e todos
obedecem, esta necessidade de humilhar, isto sim, é detestável. Este tipo de
show, não faz parte de minha vida.
Já senti muita raiva. Hoje sinto pena.
Tomara que no dia do juízo final, Deus não seja tão rígido na fila única,
o ônibus que conduzir seus "Ninguéns" pare no ponto certo, e que não
soem alarmes falsos. Senão, tadinhos, danaram-se.
1988
Maktub