Um dia, a Mulher solitária e atormentada chegou ao Céu e, rojando-se, em lágrimas,
diante do Eterno Pai, suplicou:
Senhor, estou só! Compadece-te de mim. Meu
companheiro fatigado,
cada dia,
pede-me repouso e devo velar-lhe o sono!
Quando triunfa no trabalho,
absorve-se na atividade mais intensa e, muita vez distraído, afasta-se do
lar, aonde volta somente quando exausto, a fim de refazer-se.
Se sofre, vem a
mim, abatido, buscando restauração e conforto...
Tu que deste flores
ao arvoredo e que abriste as carícias da fonte, no seio escuro e ressequido
do solo, consagras-me, assim, ao insulamento? Reservaste a terra inteira ao
serviço do homem que se agita, livre e dominador, sobre montes e vales, e
concedes a mim apenas o estreito recinto da casa, entre quatro paredes, para
meditar e afligir-me sem
consolo?
Se sou a companheira do homem, que se vale de mim para
lutar e viver,
quem me acompanhará na missão a que me destinas?
O Senhor sorriu, complacente, em seu trono de estrelas fulgurantes e,
afagando-lhe a cabeça curvada e trêmula, falou compadecido:
Dei o mundo ao homem, mas confiarei a vida ao teu coração.
Em seguida colocou-lhe nos braços uma frágil criança.
Desde então, a Mulher fez-se Mãe e passou a viver plenamente feliz.
Meimei
1962