Distribuir o troco
 
Minha rotina pela manhã inclui uma parada em uma loja de conveniências para comprar o jornal. Certa manhã, há pouco tempo, a conveniência da loja mostrou-se inconveniente para as pessoas presas na fila atrás de dois pequenos meninos. Quando cheguei ao caixa para pagar pelo jornal, notei os dois garotos em pé na frente da fila - uma fila que crescia à cada minuto. O jovem atrás do caixa estava claramente irritado com os meninos e disse para eles,
- Olhem, vocês precisam de mais dezenove centavos para pagar por este doce. Se vocês não têm, vocês não levam. E agora, o que vocês irão fazer?

Eu assisti, como os pequenos meninos pareciam embaralhar os pés sem articular uma palavra, apenas olhando fixamente para o caixa com olhos entristecidos. As pessoas esperando impacientemente na fila começaram a reclamar ruidosamente,
- Como é que é! A fila anda ou não anda?

De repente, me senti na obrigação de intervir.
- Eu tenho os dezenove centavos, - gritei de minha posição na fila - tome este dólar pelo meu jornal e use o troco para pagar pelo doce.

O jovem do caixa pareceu aliviado por ter o assunto resolvido. Entreguei o dólar, sorrindo ao jovem do caixa e parti. Enquanto fazia meu caminho até meu carro, uma pequena voz gritou para mim,
- Ei, Senhora! Aquilo foi legal!

Ele se foi. Eu suponho que tinha sido um "obrigado" e gostei de pensar que eu seria o assunto de suas conversas naquela manhã. Eu era a "senhora legal" que salvou o dia pagando pelo doce em um apressado e negligente mundo. Me fez sorrir imaginar que meu gesto clareou seu pequeno mundo, mesmo que só por um momento.

Quando cheguei a minha própria loja, eu me deleitava com minha boa ação e procurava compartilhar minha história com minhas clientes. Quando terminei de contar a história para um grupo de jovens, uma delas virou-se para mim e disse,
- Eu gosto de fazer pequenas coisas como esta, também. Quando eu paro para tomar meu café diário, eu deixo alguns centavos no chão do estacionamento ou na calçada. Algumas vezes eu fico em meu carro e observo para ver se alguém encontra minhas moedas. Sempre faz as pessoas sorrirem e faz meu dia mais alegre, também. Eu tenho feito isto há anos.

Eu não podia falar. Fazer alguém sorrir ao achar uns centavos no estacionamento. Talvez eu tenha sido uma das que receberam seu presente.

Ela admitiu timidamente que nunca tinha contado isto à ninguém.
- E eu aqui, alardeando minha "generosidade". Pensei comigo mesma.

Eu aprendi que devemos fazer nossas boas ações sem fanfarra e sem esperar reconhecimento. Humilhada, decidi não contar meu episódio matutino para mais ninguém. Ficaria apenas entre Deus e eu.

Naquela tarde, a caminho de casa, eu parei em um café para comprar donuts. Quando deixei a loja, notei uns brilhantes centavos na calçada. Em vez de curvar-me e apanhá-los, eu ajoelhei e coloquei mais uma moeda. Afinal, centavos são presentes de anjos e os anjos sempre sorriem quando nós dividimos nosso troco.


(Tradução de Sergio Barros)



1958

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