Sabedoria do Raquin
 
O sultão estava a bordo de um navio com um dos seus melhores servos.

O servo, que nunca havia feito uma viagem (com efeito, como filho das montanhas ele nunca tinha visto o litoral), sentou-se no porão do navio e chorava.

Todos foram bondosos para com ele e procuraram acalmar seu medo, mas essa bondade chegou somente ao seu ouvido, não ao seu coração medroso.

O rei não agüentava mais ouvir os gritos do seu servo, e a viagem pelas águas azuis, debaixo do céu azul, já não tinha prazer para ele. Então o sábio raquim, o médico, aproximou-se dele e disse:
- Vossa Majestade, com vossa permissão, eu posso acalmá-lo.

Sem demorar um instante, o sultão deu sua permissão.
O raquim mandou que os marinheiros jogassem o homem ao mar; os marinheiros fizeram isso ao chorão com muito prazer.

O servo debateu-se na água, fez esforços para respirar, agarrou-se à borda do navio e implorou que o tomassem a bordo de novo.
Então eles puxaram-no para cima pelos cabelos.

Daquele momento em diante ele sentou-se muito quieto num canto. Ninguém ouviu mais uma palavra de medo da sua boca.
O sultão ficou assombrado e perguntou ao raquim:
- Que sabedoria está contida nessa ação?.

O raquim respondeu:
- Ele nunca tinha saboreado o sal da água do mar. E ele não conhecia o grande perigo que existe no mar. Portanto ele não poderia saber quão maravilhoso é ter as pranchas fortes do navio debaixo dele.

Somente aquele que já enfrentou o perigo pode saber o valor da paz e da tranqüilidade.
(Do livro: O Mercador e o Papagaio)
 

1957                       

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