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A cachoeira da
Paz
Era uma vez dois bandos que disputavam entre si para ver quem via melhor a
Cachoeira da Paz, que ficava lá em cima, na montanha da Luz Eterna.
Os do lado de cá diziam que daqui é que se vê quase tudo. Os do lado de lá juravam que de lá é que se via praticamente toda a extensão
da cachoeira.
Gritavam uns para os outros e convidavam quem passava a conhecer a cachoeira
do seu lado, porque o seu lado é que era o melhor.
E havia os que aproveitavam para fazer propaganda contra os que do outro lado
afirmavam ver alguma coisa:
- Eles estão nas trevas, eles ainda estão na ignorância, eles ainda não
viram direito. Deus não lhes deu o que deu a nós. Nós, sim, podemos ver
quase tudo porque Deus nos escolheu para deste lado ver o que pode e deve ser
visto. Venha para o nosso lado. Daqui é que se vê a verdade da cachoeira...
Bebiam da mesma água, mas até isso eles deturparam: um lado dizendo que a água
do outro lado era mais suja. Um dia, um adulto sério os convidou a olhar a cachoeira juntos do meio do rio
e a beber das águas limpas juntos.
Alguns foram e gostaram e aproveitaram para conversar. Outros não quiseram aceitar o convite porque achavam que era um truque para
fazê-los mudar de lado e não para ensinar a ver juntos ou beber juntos.
Os que foram lá para o meio ficaram amigos e nunca mais um falou contra o
outro. Por várias razões, continuaram a valorizar o seu ângulo pra onde voltavam
de vez em quando, mas davam sempre um jeito de ir beber junto com os irmãos
do outro lado.
Construíram uma plataforma e uma ponte que facilitasse o trânsito entre
eles. Agora, sempre que podem, dão um jeito de se ver.
Gostaram da experiência de nadar e beber juntos daquelas águas que descem da
cachoeira. Os que não foram continuam criticando, impedindo os outros de irem e achando
mil defeitos em quem bebe do lado de lá ou bebe junto, pior ainda dos que
mergulham juntos.
- É por causa deles que a vida naquele rio ainda é cheia de problemas. Por causa deles, a maioria dos projetos de melhorar o rio e a região
continuam parados. Eles se acham os donos daquelas águas. Acham que Deus as deu somente a
eles...
(Pe. Zezinho)
1908
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