Era um Domingo de manhã e acontecia um culto numa igreja da Alemanha.
Durante o culto um velho membro da igreja levantou-se, e pediu a palavra.
Queria falar à todos para contar uma história triste que lhe incomodava
o coração há muitos anos. E aquele senhor contou o seguinte:
Nasci nesta cidade, aqui cresci e criei-me. Sempre me considerei um bom
cristão. Freqüentei a igreja desde pequeno. Sempre conheci muito sobre
as Escrituras Sagradas.
Durante a Segunda Grande Guerra Mundial, tínhamos ouvido notícias do que
estava acontecendo aos judeus nos campos de concentração. Mas, procurávamos
nos manter afastados da realidade do que estava ocorrendo. Afinal de
contas, quem iria poder fazer algo para impedir as atrocidades cometidas
pelos governantes alemães contra aquele povo?
Atrás da nossa pequena igreja atravessava uma linha de trem e todos os
domingos, durante os cultos de manhã, escutávamos o ruído dos vagões
que passavam nos trilhos.
Certo Domingo, ouvimos gritos que vinham do trem que passava. Fomos saber
do que se tratava e descobrimos, estarrecidos que aquele trem estava
carregado de judeus. Eles eram levados naqueles vagões de forma desumana
e cruel. Eram transportados como gado.
Ficamos ainda mais perturbados quando descobrimos que toda aquela gente
era conduzida para um destino cruel e impiedoso. Aquele trem ficou
conhecido em nossa cidade como o "trem da morte"!
Semana após semana, Domingo após Domingo, ouvíamos o ruído daquelas
rodas, e sabíamos que ao passar no fundo da nossa igreja, os judeus,
desesperados, começariam a gritar por socorro.
Seus gritos nos apavoravam. Perturbavam-nos terrivelmente.
Todos os domingos, naquele mesmo horário, o pesadelo acontecia: gritos e
mais gritos de pessoas que tentavam livrar-se da morte invadiam o nosso
culto. Então para não mais ouvirmos aquele clamor, decidimos que, no
momento em que se ouvisse o barulho do trem, ficaríamos todos em pé, e
cantaríamos em voz alta.
Assim, quando o trem passava no fundo da nossa igreja, cantávamos com as
nossas vozes no máximo. E, quando o grito daquela gente desesperada
ficava mais alto que a nossa voz, alguém sempre dizia: "Cantem um
pouco mais alto! Cantem um pouco mais alto!"
Passaram-se os anos, e ninguém mais fala nisso. Todavia eu ainda ouço o
barulho do trem que vai passando, e o gemido desesperado de todas aquelas
pobres almas que foram levadas no trem da morte.
Ainda posso ouvi-las gritando por socorro....
Que Deus tenha misericórdia da minha vida, pois eu podia ter feito algo
por aquelas pessoas, mas fui um grande covarde.
Este é o meu desabafo e a minha confissão.
Podemos estar vivendo a mesma realidade nos dias de hoje. Lembremo-nos que
o trem da morte passa por nós todos os instantes, conduzindo almas e mais
almas para o mais triste e desesperador fim. Não podemos ser covardes,
acomodados e egoístas, guardando as bênçãos só para nós. Precisamos
reparti-la com os outros.