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Às vezes quando eu viajo de um
compromisso para outro, me
encontro sentando ao
lado de alguém que é um autêntico tagarela.
Normalmente é uma experiência
agradável para mim porque sou um inveterado observador de pessoas.
Eu aprendo
muito prestando atenção e escutando as pessoas que encontro a cada dia. Já
ouvi histórias de tristezas e de alegrias, de medo e de fé.
Triste dizer, há vezes que me sento ao lado de pessoas que apenas querem
descarregar seu rancor ou impor seus pontos de vistas políticos. Era um destes
dias, eu sentei, resignado, quando meu companheiro de viagem começou seu
discurso sobre o estado terrível do mundo, com aquelas frases,
- Você sabe, estas crianças de hoje estão...
E foi falando e falando, distribuindo vagas noções do terrível estado dos
adolescentes e jovens adultos, baseado em notícias de tele-jornais previamente
escolhidos.
Quando eu desembarquei comprei um jornal e fui jantar no hotel. No jornal, em
uma página interna, havia um artigo que, à meu ver, deveria ter sido a
manchete da primeira página.
Em uma pequena cidade, havia um menino de 15 anos com um tumor no cérebro.
Submetia-se a tratamentos de radiação e quimioterapia. Em conseqüência dos
tratamentos, tinha perdido todo o seu cabelo.
Eu não sei como você reagiria,
mas eu tenho certeza que com aquela idade - eu me sentiria péssimo ao perder
os cabelos!
Os colegas de escola do menino vieram espontaneamente amenizar a situação:
todos perguntaram à suas mães se poderiam raspar suas cabeças de modo que
aquele garoto não fosse o único careca da escola e não se sentisse
diferente.
Naquela página, havia uma fotografia de uma mãe raspando a cabeça
do seu filho com a família observando em aprovação. Ao fundo, um grupo de
jovens igualmente carecas.
Não, eu não me desespero por causa das crianças de hoje.
Afinal, você sabe,
as crianças de hoje estão...
Tradução de Sergio Barros
1634
Maktub |
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