|
A serra
Quando eu era menina, uns tios e seus filhos vieram residir na casa de meus pais.
Minha prima e eu costumávamos discutir continuamente enquanto nos desobrigávamos das tarefas da casa.
Como eu era a mais velha, tinha a pretensão de querer ensinar-lhe a fazer as menores coisas, o que, é claro, a contrariava.
Um dia, depois de ter assistido a uma dessas cenas, nosso avô levou-nos ao fundo do quintal, onde havia uma pilha de lenha.
A seguir, apanhando o mais grosso dos tocos de madeira disse-nos em tom sério, porém sem nenhuma zanga:
- O toco deve ficar no meio. Vocês apanhem a serra, cada uma de um lado e comecem a serra-lo!
Ficamos ambas atônitas, mas imediatamente obedecemos. A serra era uma dessas comuns no campo, acionada por duas pessoas que ora empurram, ora puxam.
Comecei a serrar, o mais depressa que podia, mais uma vez desejosa de provar que minha prima não era capaz de fazer o mesmo.
Mas, a cada vez que eu empurrava a serra para trás, mais depressa do que ela, a lâmina metálica se curvava e eu perdia o equilíbrio.
Percebi então que, serrando à mesma velocidade que ela e sempre com força igual, o trabalho progredia melhor.
Estávamos mortas de cansaço quando terminamos o trabalho, porém tínhamos sincronizado perfeitamente os nossos movimentos.
Vovô aplaudiu quando o toco se abriu em dois pedaços e nos explicou sorrindo:
- Vocês conseguiram levar a bom termo a tarefa e nisso não existe nenhum mérito. É que vocês trabalharam em harmonia. Quando tiverem um trabalho a fazer lembrem-se de que, trabalhando juntas e com esforço igual, tudo se tornará mais fácil e mais rápido.
Nunca pude me esquecer daquilo. E como, na vida, a maioria das tarefas que nos cabem envolvem outras pessoas, eu me lembro daquele toco e procuro aplicar mais uma vez, com alegria e bom humor, a lição da harmonia.
1587
Maktub
|
|