|
Queda no chão
Pouco belo, de situação econômica e social mediana, mas muito presunçoso,
julgava-se "pintado de ouro".
Achava que todos deviam concordar consigo, embora pudesse discordar dos
outros. E discordar era o que mais gostava, além da ironia e humilhação com
os que lhe vinham. Tudo para demonstrar a superioridade que supunha ter.
Vestia-se imponentemente, exigia demais de si e dos demais, mas nunca
conseguiu satisfazer-se ou ser feliz.
Discutia com a esposa, reprimia os filhos e maltratava os empregados. E isso
mesmo fazia com os amigos e estranhos que encontrava.
Acreditava que tudo sabia, e que a cultura era só o que precisava conquistar.
Preconceituoso, descriminava a tudo e todos que não lhe fossem semelhantes:
de outras religiões, convicções políticas, raças ou posições sociais.
Se um inculto, por exemplo, lhe dirigia a palavra simplesmente não respondia.
Afinal, a educação para essas pessoas era dispensável.
A saúde era que não ia bem, com o estresse que impunha à sua vida, cigarros
e preocupações vazias. Até um dia, quando voltava para casa à noite,
sentir-se mal numa estrada deserta. Sua vista embaçada e a fraqueza repentina
nas pernas acabaram o derrubando no chão.
Foi socorrido e levado a um bom hospital por um negro, analfabeto, ex-presidiário
e pobre, que ainda lhe dedicou muitas orações, no culto africano que freqüentava.
1457 |
|