Ela era uma mulher feliz como poucas, pensava.
Casada com um homem por quem se apaixonara nos verdes anos de sua adolescência,
vivia como uma mulher realizada.
E um filho para completar sua felicidade. O que mais poderia desejar.
Ao despertar todas as manhãs, vivia o dia cantando.
Com alegria realizava todas as tarefas do lar, cuidava de seu filho, e
esperava o marido.
Tudo caminhava muito bem, até um dia que descobriu que o
homem que tanto
amava estava lhe traindo.
E não era algo recente. Este problema já existia a muito tempo. Apreensiva
dirigiu-se ao marido e exigiu respeito.
Sua resposta foi de forma bruta e violenta. O homem encantador se
transformou em um homem irracional e agressivo. E logo a agrediu.
Foi neste dia que ela viu que toda a segurança de seu casamento havia
terminado. Era o máximo que podia suportar.
Não poderia seguir convivendo com alguém que havia chegado a agressão física.
Então, numa manhã de muita tristeza, de muita angústia, decidiu e tomou uma
decisão muito séria. Se mataria, terminaria com
sua própria vida. Mas
desejava vingança.
Por isso, tomou o filho de quatro anos em suas mãos e decidiu que o mataria
também. Que o marido sofresse de arrependimento.
Seu destino era o farol, próximo de onde vivia. Conhecia aquele lugar e de
onde o mar golpeava com violência no despenhadeiro. Ao atravessar as ruas
de imenso movimento, pois trafegavam muitos carros, seu filho escapou-lhe
das mãos e correu pelo meio dos automóveis. Ela se desesperou.
Estranho, levava o filho pelas mãos para atirá-lo no despenhadeiro para
que morresse. Mas quando o viu correndo perigo, se abandonou de si mesma e
correu ao seu encontro, pegando-lhe pelas mãos. Neste momento a criança se
agachou e pegou um papel que o vento ali deixou.
Ela o tira de suas mãos e um título em letras grandes chama-lhe a atenção:
"UM MINUTO APENAS" Ela leu. "Em um minuto apenas, a tormenta
passa, a dor passa, o ausente chega.
O dinheiro chega, o amor parte, a vida
continua."
Vai andando e lendo a página. Era uma página escrita por um sábio. Ela
terminou de ler. Seu ímpeto passou. Em um minuto apenas.