Sabedoria, cicatrizes e cabelo acinzentado... Apenas isto.
Sentado numa cadeira numa sala vazia. Tranqüilo. Sozinho. Os anos
passando diante dos olhos.
Quando eu era jovem era bem sucedido. Tive quatro irmãos e cinco irmãs.
Tive amigos e família. Trabalhei muito. Arei aquele campo com nosso
cavalo. Posso lembrar-me de tudo bem claramente a maior parte do tempo.
Outras vezes... ainda mais claramente. Levantava-me antes do sol brilhar e
trabalhava até depois de escurecer.
Lembro-me da guerra que levou minha saúde... e mente. Lembro-me dos dias
de choro. Lembro-me de meus amigos agonizando em meus braços. Assisti à
notícia. Fiz a notícia. Gostaria de poder mudar a notícia.
Minhas crianças, e suas crianças, e suas crianças, têm vindo me ver
ultimamente. Nunca me deram muita atenção. Sei o que significa. Não
quer dizer que me amam. Significa que estou morrendo. Fizeram uma festa
para mim ontem. Entrei e todo o mundo gritou e então voltaram a conversar
um com o outro. Entrei. Só.
Aqui estou. Num asilo. Há flores. Mas não têm cheiro.
Sentado numa cadeira numa sala vazia. Tranqüilo. Sozinho. Os anos
passando diante dos olhos. Lembra-se de sua esposa de há muito tempo.
Morreu cedo e ele nunca amou outra. Deve ir? Deve ficar? Um pálido
pensamento. Até que sons de recordação enchem o ar à sua volta.
O que é isso? É... é. É a canção que minha encantadora esposa tocava
no piano todos os dias.
Um velho homem de cabelo acinzentado se esforça e luta e finalmente se
levanta. Anda com suas bengalas até a outra sala. Ali um jovem toca a música.
Ninguém mais está ali. O velho homem de cabelo acinzentado escuta a
melodia e se lembra do cheiro de sua esposa e da cor de seus olhos.
A canção para. O coração continua a batida. O velho homem de cabelo
acinzentado volta.
E ali está: Tranqüilo. Sozinho. O velho homem de cabelo acinzentado,
esperando... Os anos passando diante dos olhos. Sozinho...
(Tradução de Sergio Barros
do texto de Trent Brandt)