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A adversidade desperta em
nós capacidades que, em
circunstâncias favoráveis,
teriam ficado adormecidas.
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SOLIDÃO
Algumas folhas de papel, caídas sobre a areia de uma
praia pouco visitada traziam as seguintes linhas:
Quando abraço o oceano com o olhar, volto a questionar
milhões de coisas, tantas quanto as ondas que ganham a
areia. Volto a questionar: como alguém pode sentir-se só
na presença do mar?
Na presença desta brisa incessante? Na companhia deste
perfume raro?! Como ainda posso me sentir só, sabendo que
os braços do invisível me abraçam, que aqueles que
partiram continuam existindo, e que todos nós, sem exceção,
somos amados por alguém!? Como ainda posso me sentir só?
Talvez seja porque eu que me isole do mundo, e que seja
exigente demais com as pessoas. Pode ser isso. Talvez seja
porque eu que não permita que os outros conheçam minha
vida, meus sonhos, minhas dificuldades - acho que há um
pouco de orgulho nisso. Quem sabe seja porque eu que
procure a solidão, e não ela que me persiga, como eu
imaginava.
É... talvez eu precise conversar mais com as pessoas, me
interessar mais por suas vidas, ouvir.
Há tempos que não ouço alguém; um desconhecido
relatando os acontecimentos corriqueiros do dia-a-dia; um
colega de trabalho falando das peripécias de seus filhos.
Meus irmãos: há tempo que não converso com eles sobre
assuntos profundos, como planos para o futuro, lembranças
boas do passado. É curioso, pois lembro-me de que há
algumas semanas ouvi uma mensagem de cinco minutos,
num programa de rádio, que falava sobre isso, sobre como
as pessoas se isolam umas das outras, e do quanto isto é
prejudicial para a saúde mental e física, já que uma é
conseqüência da outra.
O locutor dizia que "quem ama não se sente só",
pois está sempre se
doando, se envolvendo com os corações mais próximos, na
intenção de ajudar. Dizia ainda que, quando nos sentimos
úteis, e concluímos que muitos dependem de nossa dedicação,
de nosso amor, também esquecemos da solidão.
Acredito que ele tenha razão, pois lembro que naquele dia
fui visitar uns tios que não via há muito tempo, e
aquela visita fez-me tão bem! Falamos de assuntos comuns,
como notícias de televisão, notícias da família,mas ao
final saí de lá menos tenso, menos preocupado com a
solidão.
Abracei minha tia, e a ouvi dizer por entre lágrimas
discretas:
"gostamos muito de você, viu? Venha mais
vezes!
Não é sempre que recebemos visitas!"
Ela estava certa: não é sempre que recebemos visitas,
pois não é sempre que visitamos os outros, creio eu.
Naquela tarde vi que poderia ser útil em pequenas coisas,
e que aquilo me afastava um pouco da solidão.
Dentro do carro, voltando para casa, observando o
movimento intenso nas ruas, eu lembro de fazer estas
mesmas perguntas: como pode alguém sentir-se só na
presença de tanta gente, de tanta vida!?
Quantos desses corações esperam apenas por uma visita? E
quantos deles estão dispostos a fazer uma?
E aqui está você, amigo oceano, à minha frente, ouvindo
todas estas minhas divagações.
Acho que foi sua presença, rei das águas, que me ajudou
a
entender melhor o que se passa em meu íntimo.
Agradeço profundamente por sua companhia, por conseguir
me ouvir, e por me dizer, mesmo sem falar, que o que
preciso fazer é visitar mais o coração de meu próximo.
Muito obrigado."
Bom dia!!
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