que esbarram nos lírios dos reencontros
e provocam a desarmonia das pétalas o ôco vácuo do nada
alterando o percurso de tantas estrelas iluminadas.
Feliz é você
que possui uma caixinha de segredos
e que só precisa a tampa tirar para sentir outra vez
as impressões dos tempos para que as saudades se
desintegrem nos brancos lençóis do seu interior
acendendo em paz as auras dos anjos acalmando seu
vulcão no conformismo de uma extinção necessária.
Triste sou eu que tenho a mesma caixinha e não sei usar
que não encontro esconderijos seguros e só entendo da
vastidão do mar recebendo por demais quente no rosto
o saturado calor de um sol paralisado
eu que à noite ouço os gemidos da minha alma e não sei como consolar esse choro milenar
choro espalhado pelos ventos das músicas notas que não canto mais na nossa parceria
choro posto nas neblinas das serras nos corredores dos supermercados divertidos na cumplicidade dos bosques
bem-te-vís nos lagos dos casamentos floridos
nas tentações dos chocolates em conchinhas
nas camas amarrotadas de desejos gêmeos
no violão e na flauta tímida de um bar
nas cascatas desdobrando águas pelas pedras nas mãos
que coloriram a cor dos seus pés nas praias cobrindo
de espuma nossos corpos blues nos ramos das árvores
gigantes nos incensos da yogga mais zen
nos cinzeiros repletos de cigarros perdoados
nas redes rendadas de sonhos nas infinitas viagens
abraçadas de tanto no beijo público e estampado no
estacionamento nas corujas de uma noite leve e amiga
nos elevadores que nos elevaram nas brincadeiras das nossas crianças imortais nas imagens que nos encantaram
nos sorrisos que embrulhamos para presente nas colunas
dos aeroportos nos portões de embarque
no pó de um tempo intemporal.
Feliz é você
que quando se distrai e lembra de mim abre a tampa de
uma caixinha de segredos e deixa que lá dentro as
lágrimas se entendam.
Feliz é você
que conhece as poções mágicas e explica com argumentos
cósmicos o porque de um adeus desenhado a giz
definindo por a mais b a sensata interrupção do nosso rio.
Triste sou eu
que não entendo de pensamentos e só escuto as palavras
de um coração atrevido que olho para as montanhas da nossa
divisão e sinto na cara metade o eco de um grito amordaçado
no precipício eu que provo na boca o gosto do seu beijo ausente
que tenho os olhos embaçados pelo turvo espanto nas pupilas dilatado.
Triste sou eu
que acordo todos os dias sem entender o tic sem tac das horas
sem você que congelei na memória a temperatura da sua
respiração que ouço da sua voz em tom amor
a docilidade perpetuada na minha audição eu que não sei
fazer contas mas que sinto diminuta a distância
entre nossos corações
eu que não percebo as intenções dos vampiros inconformados
que como gafanhotos ladrões invadem campos de girassóis
e engolem as sementes que escolhiam germinar
...e aí fico assim no abstrato espaço dessa lacuna
escrevendo um poema cheio de entrelinhas
absolutamente prescindível que nada deseja em troca
que nada quer dele mesmo e que escreve-se por si próprio
de qualquer maneira o poema vôa
e leva em suas asas o timbre do meu verso dispensável
peço que guarde-o na sua caixinha de segredos ele traduz as partículas fragmentadas do nosso tanto
tatuagens de um
susto que se deitou perplexo na cratera mais profunda da lua desistente peço que guarde sim
porque ainda percorrem nas veias dessas estrofes a paixão de sempre
o amor único que justifica todas as minhas lágrimas azuis
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Livro : Tanto Azul