Naquela comunidade de franciscanos, frei Teófilo era o
responsável pela sopa dos pobres.
Todos os dias de manhã, ia recolher verduras e legumes na horta,
trazia ossos do açougueiro da vila (para aproveitar o tutano) e
depois preparava uma substanciosa sopa num grande caldeirão de
ferro. Enquanto a sopa cozia, aproveitava para fazer um exercício
devocional individual.
Muitos anos continuou ele nesse serviço e nesta devoção. Um dia,
embora de olhos fechados em prece, percebeu uma luminosidade
incomum no ambiente. Abriu os olhos e viu, rodeada por intensa
luz, a figura viva do Cristo à sua frente! Instintivamente
Teófilo se prostrou. Seu coração batia descompassadamente,
ameaçando romper-se de alegria!
Mas seu arrebatamento foi interrompido: a campainha da porta da
rua soou estridentemente, eram os pobres! Teófilo titubeou:
-- Oh! Jesus! Como deixar esta revelação pela qual aspirei e
esperei a vida inteira. E que direito têm os pobres de
interromper este êxtase sublime?
Ergueu implorativo olhar, mas o Mestre apenas o observava,
atentamente.
A campainha tocou outra vez. Movido pelo dever, o frade suspirou,
inclinou-se ante o Cristo e correu à cozinha. Tomou o caldeirão e
a concha e dirigiu-se à porta. Os pobres já estavam nervosos.
Teófilo os serviu pacientemente, mas ainda estava ansioso e
emocionado.
Quando terminou sua tarefa, tornou à cozinha, deixou ali os
apetrechos e olhou esperançoso para seu quarto: ainda estava
esplendidamente iluminado!
Entrou: Cristo o esperava! Comovido e jubiloso ajoelhou-se e,
então, o Mestre lhe disse:
- Teófilo, Eu me teria ido... Se tivesses ficado...!
2298 Maktub