Festa
no apartamento
Ao amadurecer,
descobrimos que a
grama do vizinho não
é mais verde
coisíssima nenhuma.
Estamos todos no
mesmo barco. Há no
ar um certo queixume
sem razões muito
claras.
Converso com
mulheres que estão
entre os 40 e 50
anos, todas com
profissão, marido,
filhos, saúde, e
ainda assim elas
trazem dentro delas
um não-sei-o-quê
perturbador, algo
que as incomoda,
mesmo estando tudo
bem. De onde vem
isso?
Anos atrás, a
cantora Marina Lima
compôs com o seu
irmão, Antonio
Cícero, uma música
que dizia: "Eu
espero/
acontecimentos / só
que quando anoitece
/ é festa no outro
apartamento".
Passei minha
adolescência com
esta sensação: a de
que algo muito
animado estava
acontecendo em algum
lugar para o qual eu
não tinha convite. É
uma das
características da
juventude:
considerar-se
deslocado e impedido
de ser feliz como os
outros são, ou
aparentam ser.
Só que chega uma
hora em que é
preciso deixar de
ficar tão ligada na
grama do vizinho. As
festas em outros
apartamentos são
fruto da nossa
imaginação, que é
infectada por falsos
holofotes... Falsos
sorrisos...
Os notáveis
alardeiam muito suas
vitórias, mas falam
pouco das angústias.
Pra consumo externo,
todos são belos,
sexys, lúcidos,
ricos, sedutores.
"Nunca conheci quem
tivesse levado
porrada todos os
meus conhecidos têm
sido campeões em
tudo".
Nesta era de
exaltação de
celebridades fica
difícil mesmo achar
que a vida da gente
tem graça. Mas tem.
Paz interior, amigos
leais, nossas
músicas,
livros,fantasias,
desilusões e
recomeços, tudo isso
vale ser incluído na
nossa biografia.
Estarão mesmo todos
realizando um milhão
de coisas
interessantes
enquanto só você
está sentada no sofá
pintando as unhas do
pé?
Favor não confundir
uma vida sensacional
com uma vida
sensacionalista. As
melhores festas
acontecem dentro do
nosso próprio
apartamento!
Bom dia!!
(Martha Medeiros)