"Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina." Manoel de Barros”
O Velho e o neto
Era uma vez um velho
muito velho, quase cego
e surdo, com os joelhos
tremendo. Quando se
sentava à mesa para
comer, mal conseguia
segurar a colher.
Derramava sopa na toalha
e, quando, afinal,
acertava a boca, deixava
sempre cair um bocado
pelos cantos.
O filho e a nora dele
achavam que era uma
porcaria e ficavam com
nojo. Finalmente,
acabaram fazendo o velho
se sentar num canto
atrás do fogão. Levavam
comida para ele numa
tigela de barro e
- o que era pior - nem
lhe davam bastante.
O velho olhava para a
mesa com os olhos
compridos, muitas vezes
cheios de lágrimas. Um
dia, suas mãos tremeram
tanto que ele deixou a
tigela cair no chão e
ela se quebrou. A mulher
ralhou com ele, que não
disse nada, só suspirou.
Depois ela comprou uma
gamela de madeira bem
baratinha e era aí que
ele tinha que comer.
Um dia, quando estavam
todos sentados na
cozinha, o neto do
velho, que era um menino
de oito anos, estava
brincando com uns
pedaços de pau.
- O que é que você está
fazendo? - perguntou o
pai.
O menino respondeu:
- Estou fazendo um
cocho, para papai e
mamãe poderem comer
quando eu crescer.
O marido e a mulher se
olharam durante algum
tempo e caíram no choro.
Depois disso, trouxeram
o avô de volta para a
mesa. Desde então
passaram a comer todos
juntos e, mesmo quando o
velho derramava alguma
coisa, ninguém dizia
nada.
Bom dia!
"Sejamos eternos um para o outro... Nem que seja por enquanto...”