Oportuna lição
O Dr. Albertino
Silvério era
conhecido
advogado. Homem
de invejável
cultura.
Conhecimento
profundo e
variado. Em
particular,
achava-se
autoridade em
assuntos
sócio-econômicos.
Era contudo,
refratário a
qualquer tipo de
assistência
social. Não
aceitava. Achava
inútil.
- Não acredito
em beneficência
diminuta.
Caridade gota a
gota não
resolve. Prefiro
soluções
radicais.
- Não é o que
penso, Silvério.
A caridade,
mesmo pequenina,
é sempre ajuda a
alguém. Quem
respondia era o
Doutor Fontes,
abnegado amigo
dos sofredores.
Silvério, no
entanto,
continuava:
- Um copo de
leite, por
acaso, banirá do
mundo a fome? Um
cobertor ou uma
veste resolverá,
por ventura, a
angústia da
nudez? Isso é
assunto de
governos e não
serão alguns
poucos bem
intencionados
que irão
solucioná-lo.
A conversa
prosseguia,
quando passa um
jovem anunciando
o jornal da
tarde.
Silvério
chama-o. Deseja
o jornal.
Rebusca o bolso
e só encontra
dinheiro alto.
Não há troco.
Nesse instante,
porém, o doutor
Fontes, tomando
a quantia
necessária e
pagando o
jornal,
aproveitou a
lição:
- Veja,
Silvério, o que
a própria vida
nos mostra.
Ninguém nega o
bem inestimável,
que os grandes
recursos,
governamentais
ou não,
carreiam. Obras
imensas. Doações
fartas.
Entretanto, é
preciso convir
que há passagens
estreitas, que
apenas a ajuda
humilde e
pequena
transpõe.
- Para a compra
do jornal agora
o dinheiro de
alto valor de
que você dispõe
só seria útil,
se fracionado em
valores menores
e múltiplos.
Assim ocorre
também na
assistência
social. O muito
realiza muito de
uma só vez, mas
o pouco feito
com persistência
e amor pode ser,
em ocasiões, a
única solução
disponível para
grandes
problemas.
Silvério
compreendeu o
ensinamento e
mudo de espanto
frente à lógica
do amigo,
iniciou,
silenciosamente,
a leitura das
notícias.
Antônio Baduy Filho
em "Histórias da
Vida"
Bom dia!!