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Lenço
Branco
Quem está habituado a enfrentar águas traiçoeiras sabe o
quanto é importante o brilho do farol para apontar o rumo
seguro.
Sherry Hogan conta que o seu farol era o lenço de seu pai.
Ele não dava importância às iniciais bordadas ou aos tecidos
caros . Gostava mesmo de lenços de algodão branco simples.
Sempre à mão, o lenço de seu pai servia para limpar os
desastres ocasionados pelos picolés derretidos da criançada,
no banco traseiro do carro.
Serviu para enfaixar o ferimento do gatinho favorito de
Sherry, depois de um desagradável encontro do bichano com o
cachorro do vizinho. Na adolescência, mais de uma vez o
lenço serviu para secar as lágrimas de Sherry.
Quando, aos 20 anos, ela foi se despedir do pai, antes de
partir para a Europa, começou a chorar, tomada de pânico. O
quadrado de algodão tão familiar serviu para lhe secar as
lágrimas, enquanto a voz grave do pai a incentivava a
confiar e partir.
Três anos depois, em seu retorno, a primeira visão que teve
ao chegar ao aeroporto, foi do lenço branco do pai acenando
para ela acima das cabeças da multidão.
No natal de 1997, seu pai estava muito doente. O câncer lhe
tomara quase todo o corpo. Sabendo que ele partiria a
qualquer momento, Sherry foi comprar lenços lindos, de
linho, bordados. Naturalmente, também comprou uns de
algodão, por preço bem popular.
Ele abriu cada um dos pacotes. Colocou de lado os elegantes
lenços bordados, escolheu um baratinho e falou: - Só usarei
os caros em ocasiões muito importantes.
A filha abraçou o pai, como a se despedir:
- Você sempre esteve presente quando precisei, pai.
Foi o que falou, emocionada. Ele respondeu: - E sempre vou
estar, só que de um jeito diferente. Confie em mim.
Dez dias depois ele partiu. Sherry passou a sentir muito a
falta dele. Dois meses depois, ela se sentia desanimada,
triste. Sabia que ele estava em um lugar melhor, mas
precisava do abraço dele. - Fale com ele, lhe disse a irmã.
Chorosa, saudosa, ela começou a falar, andando pela sala: -
Ah, papai. Sei que você está em um lugar melhor. Acredito
nisso especialmente graças a você. Mas sinto tanto sua
falta. Eu só queria saber se você está bem.
O silêncio foi a resposta. Ela começou a soluçar alto.
Podia sentir a tristeza lhe percorrendo o corpo todo.
Foi então que ela viu, pelo canto do olho: um grande
quadrado branco debaixo da cadeira de seu pai.
Era um dos lenços novos bordados. Como ele tinha ido parar
ali? Ela limpava a sala todas as manhãs. De onde ele poderia
ter saído? Palavras de seu pai lhe vieram à mente: - Só
usarei os lenços caros em ocasiões muito importantes.
Sherry entendeu. Seu pai lhe mandara a resposta:
- Querida, estou bem. Cheguei em casa.
Bom dia!!
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