É preciso correr riscos; só entendemos direito o milagre            
da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.
 
(Paulo Coelho)

 

 

     


                  
  A lenda das cotovias

Certa feita, os emissários benditos, por designação celestial, foram à floresta com a tarefa de visitarem os ninhos de todas as espécies de aves para distribuir, a cada agrupamento, as suas missões junto à Terra.

Todas as aves foram agraciadas com tamanho e beleza, visão e precisão na caça pela sobrevivência e perfeição no vôo.

Enquanto os trabalhadores do Senhor cumpriam suas tarefas, alguns pássaros envaideceram-se e festejavam demonstrando uns aos outros o que haviam recebido.

As cotovias, porém, sofreram toda a sorte de desprezo e escárnio. Diziam que elas não possuíam importância para Deus, pois os melhores "dons" haviam sido atribuídos aos mais experientes, maiores e melhores. De que serviria, então, o dom do canto diante dos grandes desafios da vida?

Após certo tempo, os emissários retornaram à floresta com o intuito de verificarem como foram utilizados os "dons" que haviam sido depositados naqueles corações. Alguns os utilizaram de forma digna e correta, porém outros desvirtuaram seus caminhos e entregaram-se totalmente à vaidade.

Antes de partirem, os representantes divinos encontraram as cotovias resignadas e aconchegadas em seus ninhos. Ao se aproximarem, as pequeninas derramavam lágrimas e, emocionadas, cantavam corajosamente em perfeita afinação, louvando e agradecendo todas as lições que aprendiam dia a dia com as dificuldades do mundo e com os desafios de enfrentar o impiedoso prado, fazendo suas dores converterem-se em melodias, sem lamento ou reclamações, até o momento de suas mortes.

Tamanha era a força daquele canto que todos paravam para escutá-lo e, assim, sentiam suas almas tocadas por profundo alívio e alegria.

Embevecidos pela majestosa cantoria, os trabalhadores celestes reconheceram o esforço daquelas humildes criaturas e, como recompensa, quando libertas dos infortúnios do corpo emplumado, passavam a habitar as moradas celestiais, como membros das orquestras de luzes, com a missão especial de derramar sobre a humanidade as melodiosas virtudes: coragem, esperança e fé.


psicografia de Gilvanize B. Pereira

 

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