Se fosse pra ficar na sombra,
eu teria ficado em casa!
Há alguns meses, estive na praia de Ipanema, na
linda Rio de Janeiro. Verão intenso, muita gente se
divertindo e, sentados na areia, um pouco adiante de
mim, três pessoas conversavam animadamente.
Uma delas era um rapaz que, por conta de um detalhe,
destoava da grande maioria ao redor: embora fosse
por volta do meio dia e o calor estivesse
escaldante, ele não estava se protegendo do sol.
A certa altura, aproximou-se o moço que alugava esse
tipo de acessório e ofereceu:
- Você quer que eu lhe traga um guarda-sol?!?
E ele, muito à vontade na situação em que estava,
respondeu quase que indignadamente:
- Meu caro, se fosse pra ficar na sombra, eu teria
ficado em casa!
Num primeiro momento, tanto o tom da voz dele quanto
a convicção de sua decisão em permanecer sob o sol
soaram quase como uma piada para mim. Mas agora,
depois de passado todo esse tempo, comecei a me dar
conta de quantos diferentes significados aquela
frase foi ganhando.
Passei a, repetidas vezes, não só me lembrar, como
também a criar metáforas para a tal assertiva.
"Ficar na sombra" é, na linguagem da psicologia,
manter-se na inconsciência; é como aquela parte do
iceberg que fica debaixo d'água, invisível aos
navios, podendo provocar graves acidentes.
"Ficar na sombra" também quer dizer não se expor,
não enfrentar determinada condição como ela é. E, no
caso de lançar mão de um acessório para se proteger
ou se esconder, é ainda uma estratégia para não ter
de lidar com algo que pode estar incomodando, ainda
mais se sua intensidade for grande.
Claro que, no caso real, é indiscutível que uso de
protetor solar e do guarda-sol são extremamente
indicados e benéficos à saúde; mas meu intuito não é
julgar a escolha do rapaz e sim refletir sobre o
impacto que a afirmação tão convicta dele me causou.
Fez com que eu pensasse quantas vezes a gente
prefere ficar mergulhado na sombra a sair de casa e
ir à luta, ou "dar a cara à tapa" como diz o ditado
popular.
Quantas vezes preferimos uma falsa segurança - ainda
que escura e nebulosa - ao risco, à possibilidade de
tentar. E - pior! - quantas vezes saímos de casa e,
ao sentirmos o calor do sol, ou seja, a chance de
viver plena e intensamente uma oportunidade que a
vida nos apresenta, corremos em busca de uma sombra,
assustados, inseguros.
Preferimos nos omitir a expressar o que pensamos, o
que sentimos, o que queremos. E assim, de sombra em
sombra, tentando nos esquivar da condição real,
vamos perdendo chances incríveis de realizar um
sonho, de ocupar um cargo há tempos desejado, de
experimentar um amor, de desbravar o desconhecido e,
enfim, de nos transformar numa pessoa melhor...
Talvez esteja aí a resposta para tantas atrocidades
sendo cometidas, para tamanho mal-estar que tem
rondado o planeta de um modo geral: muita sombra
imposta sobre lugares, pessoas e situações onde
poderia estar brilhando o sol. Muita escuridão onde
poderia estar inundado de luz. Muita inconsciência
onde bastaria um pouco mais de coragem, um pouco
mais de disponibilidade ou simplesmente o exercício
de nossa verdadeira humanidade.
Portanto, a conclusão a que chego quando me lembro
daquela intrigante frase do rapaz da praia de
Ipanema - "Se fosse pra ficar na sombra, eu teria
ficado em casa!" - é a seguinte: que fechemos nossos
guarda-sóis, que paremos de inventar tanta sombra
para nos proteger ou nos esconder do que está aí
para ser vivido... e que sejamos, deste modo, bem
mais audaciosos quando o convite for para a vida,
para o bem e para o amor!
Bom dia!!
Rosana Braga é
Escritora, Jornalista e Consultora em
Relacionamentos Palestrante e Autora dos
livros "Alma Gêmea - Segredos de um Encontro"
e "Amor - sem regras para viver", entre outros.
www.rosanabraga.com.br
e
Comunidade no Orkut
Bom
dia!!