O Tempo e o Relógio
Certa vez, o tempo e o relógio se encontraram
(embora estejam todo tempo juntos). O tempo,
revoltado há muito tempo, disse ao relógio tudo
aquilo que, há tempos, vinha guardando.
Que ele, tempo, tinha saudades daqueles tempos
em que não existiam relógios e todo mundo tinha
tempo. Mas, quando o homem, ingrato, fabricou o
relógio que começou a marcar tempo, ninguém mais
conseguiu ter tempo. O homem ficou reduzido a
horas, minutos e segundos.
"Antes, naqueles bons tempos" - disse o tempo -
"todo homem tinha tempo de curtir a natureza.
Viviam com o sol de dia, dormiam com a lua à
noite". "Quando a lua caprichosa não queria
aparecer, era um bando de estrelas que piscavam
brincalhonas, dando tempo para o sol nascer".
"Mas agora, nestes tempos, ninguém mais tem
tempo de ver se a lua vem sorrindo para a
direita ou para a esquerda, se está de cara
cheia ou de mau humor, sem querer aparecer". O
tempo prosseguiu com um sorriso de tristeza.
"Antigamente - que tempos! - os homens nasciam
no tempo certo em que tinham de nascer. Não
havia incubadeira para os fora de tempo nem
cesariana para os que passam do tempo. A
natureza sabia, em tempo, quando era tempo.
Hoje, o homem já obedece a você, mesmo antes de
nascer. Os médicos estão apressados e sem tempo
para perder".
O relógio só ouvia e, apressado, prosseguia no
seu tic-tac sem tempo de retrucar, com medo de
se atrasar.
"Noutros tempos" - disse o tempo - "o homem
crescia sem pressa, com tempo de amadurar. Comia
sem ter horário, dormia quando tinha sono. Fazia
amor ao relento, como flores que se beijam, como
aves que se aninham. Envelhecia aos pouquinhos,
como um calmo entardecer. Depois, dormia o sono
profundo e, no outro despertar, abraçava-me com
carinho, no infinito...no infinito...".
O tempo enxugou uma lágrima, talvez de orvalho.
A voz que estava embargada, tomou uma conotação
de revolta: "Hoje, vai logo para a escola e traz
para casa um horário. Quando aprende a ler as
horas ganha do pai um relógio e, assim,
ensinam-lhe bem cedo a maneira mais correta de
nunca ter tempo na vida". O tempo não se
preocupava mais com o tic-tac do relógio que
nada retrucava para não se atrasar. Continuou a
sofismar com voz mais branda.
"Come apressado, sem tempo. Dorme ainda sem
sono, pois, de manhã bem cedinho, você começa a
gritar arrancando-o da cama, quando ainda queria
dormir". "Amor? Nem sei se ainda faz... há gente
que nem tem tempo. Quando faz é no zás-trás.
Quando vê, já envelheceu, sem ver o tempo
passar". "Na hora do sono profundo, enterram-no
apressados, para a vida continuar. E no outro
despertar, chega tão abobalhado que não consegue
me achar".
Ao relógio, sem poder nunca parar, só restava se
calar. Além do sentimento de culpa que passou a
carregar, a partir desse tempo, quando bate as
doze badaladas no silêncio da meia-noite, o
canto é tão melancólico que até parece chorar...
O
melhor tempo que existe é o tempo
presente...viva-o intensamente da maneira
correta, e sempre pensando que um tempo melhor
virá, não deixe que pessoas ou coisas queiram
controlar seu tempo...sendo assim o seu
relógio!!!
Bom Dia!!!
Maktub