Meus amigos são todos
assim: metade loucura,
outra metade santidade.
Escolho-os não pela
pele, mas pela pupila,
que tem que ter brilho
questionador e
tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que
fazem de mim louco e
santo. Deles não quero
resposta, quero meu
avesso. Que me tragam
dúvidas e angústias e
agüentem o que há de
pior em mim. Para isso,
só sendo louco.
Louco que senta e espera
a chegada da lua cheia.
Quero-os santos, para
que não duvidem das
diferenças e peçam
perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela
cara lavada e pela alma
exposta.
Não quero só o ombro ou
o colo, quero também sua
maior alegria.
Amigo que não ri junto,
não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos
assim: metade bobeira,
metade seriedade. Não
quero risos previsíveis,
nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de
mim mesmo, e risada, só
ofereço ao acaso. Quero
amigos sérios, daqueles
que fazem da realidade
sua fonte de
aprendizagem, mas lutam
para que a fantasia não
desapareça.
Não quero amigos
adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância
e outra metade velhice.
Crianças, para que não
esqueçam o valor do
vento no rosto, e
velhos, para que nunca
tenham pressa.
Tenho amigos para saber
quem eu sou, pois
vendo-os loucos e
santos, bobos e sérios,
crianças e velhos, nunca
me esquecerei de que a
normalidade é uma ilusão
imbecil e estéril.
Um abraço forte!
Rivalcir
Texto de: (Marcos Lara
Resende)